Título: Indústria reduz ritmo de crescimento, diz IBGE
Autor: Brandão Jr, Nilson; Chiarini , Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2008, Economia, p. B8

Expansão no primeiro trimestre é de 0,4% em relação aos três meses anteriores; para analistas, parada na queda do juro influiu na desaceleração

O crescimento da produção industrial brasileira desacelerou nos primeiros três meses deste ano. Depois de avançar 1,9% no último trimestre do ano passado, a produção avançou apenas 0,4% no primeiro trimestre deste ano em relação ao período imediatamente anterior.

Para economistas, a perda de ritmo deve-se a efeitos pontuais, como menos dias úteis e a parada de refinarias da Petrobrás, mas também reflete a interrupção, em novembro passado, da queda dos juros básicos. Também foi apontado o encarecimento dos alimentos na renda do trabalhador.

¿Houve desaceleração olhando por tudo que é número. Talvez não na magnitude mostrada pelos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Desacelerou e ficou mais moderado¿, disse o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Indústria (Iedi), Julio Sergio Gomes de Almeida. Os dados divulgados ontem pelo IBGE mostram que a produção cresceu 0,4% em março ante fevereiro, após ter caído 0,5%.

Na comparação com março do ano passado, o avanço foi de 1,3%. No primeiro trimestre, a expansão foi de 6,3% ante igual período de 2007. Segundo o IBGE, os dados de março revelaram ¿um quadro positivo da atividade fabril, mas marcado por um menor ritmo de crescimento¿. Por categorias, no trimestre, a produção de bens de capital cresceu 17,1%; bens intermediários 6%, e bens de consumo 4,1%.

Entre os bens de consumo, o maior crescimento foi dos duráveis (13,6%), enquanto semi e não-duráveis cresceram pouco, 1,2%, também na comparação com igual período de 2007.

O coordenador de Indústria do IBGE, Sílvio Sales, explicou que ¿nada indica¿ que a indústria brasileira ¿pisou no freio¿. Sales disse que ¿os estímulos para a demanda interna permanecem¿, referindo-se à expansão do crédito e aos aumentos do emprego e da massa salarial. Para ele, o fato de março deste ano ter tido dois dias úteis a menos que o mesmo mês de 2007 foi um dos motivos que levaram à desaceleração de fevereiro para março, além da paralisação de uma refinaria da Petrobrás.

Sales comentou, ainda, que a greve dos auditores fiscais da Receita Federal pode ter contribuído também para reduzir o ritmo do crescimento da produção industrial e talvez influa negativamente também no desempenho de abril. No entanto, segundo ele, esses fatores devem ser compensados ao longo do ano ¿se a demanda interna continuar crescendo¿.

¿O resultado ficou abaixo do que a gente vinha esperando¿, afirmou o economista da LCA Consultores Bráulio Borges. Ele concorda que a queda de 8,7% na produção do refino em março comparado ao ano passado influenciou o resultado, mas analisa que ¿a economia realmente esfriou neste início do ano¿. Borges explicou que a alta no preço dos alimentos afetou o orçamento das famílias de menor renda e o Banco Central (BC) parou a redução da taxa Selic há sete meses, o que já estaria esfriando a atividade.