Título: Nunca dois candidatos foram tão diferentes
Autor: Dias, Cristiano
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2008, Internacional, p. A24

Analistas apontam os maiores contrastes entre McCain e Obama

Nos próximos cinco meses, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain apresentarão aos americanos duas visões de mundo e programas de governo totalmente diferentes. Obama e McCain divergem a respeito de questões importantes, como política externa, guerra do Iraque, reforma tributária e políticas de saúde pública. Para muitos analistas, é o maior contraste da história dos EUA entre candidatos à presidência.

¿Será a escolha mais clara de toda uma geração¿, escreveu Doug Schoen, consultor democrata e colunista do site Huffington Post. ¿São duas visões de mundo completamente diferentes.¿ O contraste mais evidente é a idade. No dia da eleição - 4 de novembro -, Obama terá 47 anos e McCain, 72. Se eleito, o republicano será o presidente mais velho da história do país. O mais jovem a ser eleito foi John Kennedy, aos 43 anos.

De acordo com Peter Brown, diretor do instituto de pesquisa Quinnipiac, a juventude de Obama é vista como um sinal de força, enquanto a idade prejudica a imagem de McCain. Quase a metade dos eleitores da Flórida e 40% dos de Ohio e Pensilvânia se disseram incomodados com a eleição de um presidente que já passou dos 70. ¿McCain tem hoje dois problemas: George W. Bush e a data de seu nascimento¿, disse Brown.

Nas últimas duas semanas, Obama e McCain trocaram farpas sobre um tema que será recorrente nas eleições gerais: política externa. O democrata apóia negociações diretas com governos de países hostis a Washington, como Irã, Síria e Cuba.

O republicano diz que isso é ingenuidade e um sinal de como Obama é inexperiente. Negociar com o inimigo, segundo McCain, enfraqueceria os EUA e tornaria o país mais vulnerável a ataques terroristas. O medo de novos atentados foi uma arma utilizada com sucesso por Bush em 2004, e essa tática pode ser reciclada no segundo semestre.

O abismo ideológico entre os dois é ainda maior quando se trata da guerra no Iraque. McCain defendeu a invasão e prometeu manter as tropas em território iraquiano pelo tempo que for necessário. Como exemplo, ele comparou a ocupação do Iraque com a presença militar dos EUA no Japão e na Alemanha após a 2ª Guerra. Obama foi contra a guerra desde o princípio e promete retirar os soldados americanos nos primeiros 16 meses de mandato.

Com o preço da gasolina e o desemprego batendo todos os recordes, a economia deve ser um dos principais temas da eleição. McCain admitiu publicamente que não entende do assunto. Seguindo à risca a cartilha republicana, ele defende o Estado enxuto e a redução de impostos, principalmente a política de Bush de cortar tributos dos mais ricos - a idéia é que isso cause um efeito em cascata, aumentando os investimentos e o consumo.

Obama adotou posição oposta: é a favor de cortes de impostos para os mais pobres e de um aumento da carga tributária para os mais ricos. Os ganhos serviriam para implementar uma nova política de saúde pública que cubra os cerca de 50 milhões de americanos que não têm plano de saúde. Esse envolvimento do governo em questões econômicas e sociais é visto com antipatia pelos republicanos, que acusam os democratas de tentar aumentar o tamanho do Estado e de intrometer-se na vida da população.

DISCURSOS

O maior contraste entre os dois candidatos - e o que mais tem tirado o sono dos estrategistas republicanos - é a diferença dos discursos. Obama é um exímio orador que atrai milhares de seguidores. Em Portland, há um mês, 75 mil pessoas assistiram a um comício do democrata. No discurso que marcou sua vitória da disputa interna democrata, na semana passada, 20 mil lotaram o Xcel Energy Center, em St. Paul, e outras 15 mil ficaram do lado de fora.

Nos comícios de McCain, a platéia costuma ser pequena. O republicano é sonolento e tem dificuldades para ler o teleprompter. Em Louisiana, em sua primeira aparição após a confirmação de Obama como adversário, McCain fez um discurso tão ruim que provocou críticas até de aliados. Um estrategista republicano, que não quis ser identificado, disse ao site Politico.com que muita gente no partido ficou assustada com seu desempenho. ¿O contraste com Obama é desmoralizante. Até o pessoal da Fox criticou¿, afirmou, em referência a um dos canais de TV mais conservadores dos EUA.

¿Foi patético¿, disse o analista político Jeffrey Toobin à CNN. Para o estrategista republicano Alex Castellanos, a eleição não é uma disputa para ver quem discursa melhor. ¿Graças a Deus¿, comentou.

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