Título: Com propaganda do PAC, Dilma sepulta crise do dossiê no Senado
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2008, Nacional, p. A8

A oposição não conseguiu provar que o Programa de Aceleração do Crescimento (P AC) é só uma peça de propaganda, mas a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, desinflou a crise do dossiê das contas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Dilma nem precisou da blindagem que a bancada governista montou para protege-Ia dos possíveis ataques da oposição durante seu depoimento de ontem na Comissão de Infra-Estrutura do Senado.

A oposição também não conseguiu explorar as versões contraditórias do Palácio do Planalto sobre o dossiê, ouviu sem réplicas contundentes as explicações sobre o PAC.

Uma pergunta do senador Agripino Maia (DEM-RN), logo no início da sessão, facilitou tudo para a ministra (leia mais nesta página). Agripino levantou a suspeita de que Dilma mentira, sob tortura, durante o regime militar, e poderia, por isso, estar mentindo agora sobre o dossiê. O senador provocou reações entre governistas e oposicionistas e até fora do Congresso. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acusou Agripino de fazer uma "insinuação infeliz". Em nota oficial, o presidente da Ordem, César Britto, disse: "Na ditadura, a mentira era um direito de resistência inerente a todo cidadão, que não pode ser obrigado a se auto-acusar, ainda mais quando ameaçado de tortura ou de morte."

No Planalto, com duas horas de depoimento, os assessores mais próximos do Presidente já avaliavam que Dilina ganhara "o primeiro round!". "Ela saiu dessa sessão maior do que entrou"¿, afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). No fim, foi ainda mais enfático: "A oposição sai

daqui com uma dor de cabeça, um candidato governista a mais para 2010."

"Batendo nela, a oposição fez a ministra passar de 2% para 8% nas pesquisas para presidente. Depois dessa sessão, deve ter pulado para uns 12%.- Já deve ter passado o Aécio Neves", ironizou o senador Renato Casagrande (PSB-ES), vice-líder do bloco de oposição.

Até entãO, Dilma vinha resistindo a comparecer ao Congresso para explicar a montagem do dossiê por conta do desgaste que o assunto produzia na sua imagem pública Principal pré-candidata do governo à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma sabia que uma exposição excessiva às críticas da oposição poderia ter forças até para tirar seu nome da corrida sucessória.

O bom desempenho na audiência de ontem, entretanto, fortalece a ministra, como avaliam abertamente seus aliados. "Ela acertou em tudo. Até na cor", comentou a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), ao chamar a atenção para o terninho verde que a ministra escolheu para usar ontem.

PONTUAL

Dilma desembarcou pontualmente às 10 horas no gabinete

do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), e teve de esperar pelo anfitrião, que chegou logo em seguida e fez questão de acompanhá-la até a sala da comissão.

Ao longo da caminhada de cerca de 80 metros, Dilma seguiu cercada por seguranças, líderes governistas e de partidos aliados e petistas de vários Estados. Mas, para espanto geral, sem atropelos. Sorridente, comentou que a cena da qual fazia parte mais parecia uma "cerimônia de casamento". Logo atrás, o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), apostava que a ministra daria "um show", em seu depoimento.

Dentro do plenário da comissão, Dilma também teve platéia vip. Garibaldi fez questão de ficar sentado a seu lado durante toda a primeira parte da sessão. Mais tarde, para não interromper o depoimento, adiou a realização da ordem do dia do Senado para a manhã seguinte. Acompanhando a fala da ministra, aliados como Renan Calheiros (PMDB-AL) e Roseana Sarney (PMDB-MA) .

O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) foi além, na demonstração de seu apreço pela ministra. Quis homenageá-la, como "mãe do PAC", entregando um presente pela senadora Ideli, dizendo que era pelo Dia das Mães, comemorado no próximo domingo. A oposição implicou com o mimo, dizendo que o código de ética dos senadores proíbe o recebimento de presentes de valor superior a R$100.

Wellington pediu, então, a caixa de volta e não entregou o presente, um pingente de ouro com o formato do Brasil. Naquela altura, porém, Dilma já nem precisava de mais nenhum agrado para deixar o Senado satisfeita.