Título: Mercado já antecipava o grau de investimento
Autor: Froufe, Célia; Carlos, Francisco
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2008, Economia, p. B3

Analistas vêem apenas influência de baixa para o dólar

A euforia que levou a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a subir mais de 6% no dia do anúncio do grau de investimento brasileiro restringiu-se aos negócios com ativos e pouco se refletiu em alterações estruturais nos cenários macroeconômicos. O clima no mercado é de ¿eu já sabia¿ e muitos dos que tiveram de revisar suas planilhas o fariam com ou sem grau de investimento concedido pela Standard & Poor"s (S&P).

Uma variável que sofreu alguma mudança foi o câmbio, e mesmo assim de maneira sutil. A Agência Estado consultou 26 instituições e em apenas seis delas houve alteração da projeção do dólar para baixo.

O economista-sênior do Banco Cooperativo Sicredi, Alexandre Barbosa, faz parte da corrente de especialistas que fez mudanças apenas nas previsões para o câmbio. ¿Há praticamente apenas uma mudança em relação ao câmbio, de R$ 1,72 para R$ 1,68, mas o investment grade é apenas mais um, entre diversos motivos, que provocaram essa alteração.¿

A LCA Consultores ainda mantém para o ano a previsão para o dólar a R$ 1,60. ¿Essa é a expectativa com que a LCA já trabalhava antes do investment grade¿, disse Bráulio Borges, economista da consultoria.

Uma instituição que alterou todas as projeções para os indicadores foi o Unibanco, mas, conforme destacou o economista Darwin Dib, as mudanças tiveram mais relação com o a rotina de atualizações do banco do que com a notícia. ¿Foi uma coincidência e, se houve uma correlação direta, esta foi com o câmbio¿, destacou.

Muitos dos profissionais apresentaram a expectativa de forte déficit em conta corrente este ano como contraponto ao declínio do dólar. Da amostragem da AE, nenhuma instituição modificou sua previsão por causa do grau de investimento.

Para o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, as modificações que ele promoveu após a confirmação do grau de investimento da S&P, tanto para a balança comercial (de US$ 22,4 bilhões para US$ 21,2 bilhões) como para o déficit de transações correntes (US$ 19,9 bilhões para US$ 24,7 bilhões), têm muito mais ligação com a ¿deterioração das variáveis do setor externo¿ do que com o novo selo garantido pelo Brasil.

O indicador cuja previsão de resultado robusto para o ano foi fortalecida com a nova nota foi o Investimento Estrangeiro Direto (IED). As projeções obtidas pela Agência Estado vão de US$ 27 bilhões a US$ 35 bilhões. O melhor dessa expansão é que ela significa a entrada de recursos de longo prazo.

Existe um consenso de que nada mudará na condução da política monetária. Há quem aposte todas as fichas que foi a autonomia do BC a chave de ouro para que a S&P fornecesse o upgrade ao País. ¿A notícia é ótima e já era esperada, mas não altera nosso quadro de demanda forte, o que tem feito o BC subir os juros¿, disse a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli.