Título: IGP-DI de 1,12% em abril é o mais alto do ano
Autor: Saraiva, Alessandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2008, Economia, p. B4

Preços de produtos industriais no atacado elevam índice calculado pela FGV acima do que previa o mercado

A inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) atingiu em abril o maior nível do ano. Com alta de 1,12%, bem acima da taxa de 0,70% de março, o resultado assustou o mercado financeiro, que esperava aumento de, no máximo, 0,98%. Segundo informou ontem a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o desempenho foi puxado pela disparada dos preços dos produtos industriais no atacado, que subiram 1,77%, a mais intensa elevação em três anos e meio.

A FGV não descarta a continuidade da aceleração, pelo menos no curto prazo. E esse cenário pode influenciar novos aumentos de juros, segundo técnicos da FGV. Embora não seja mais usada para reajustar a tarifa de telefone, a taxa acumulada do IGP-DI ainda funciona como indexadora das dívidas de Estados com a União. Até abril, acumula 3,22% no ano e 10,24% em 12 meses - esta a mais alta taxa acumulada em três anos.

¿Isso tende a aumentar mais, nos próximos meses¿, disse o coordenador de Análises Econômicas da fundação, Salomão Quadros. Segundo o economista, como o indicador deve seguir em alta nos próximos meses, as taxas elevadas substituirão as menores, de iguais períodos do ano passado, na série de 12 meses, puxando o resultado acumulado do IGP-DI.

Assim como o resultado total do índice, a inflação do setor atacadista também foi a maior do ano em abril, com 1,3%, ante 0,8% em março. O atacado foi o setor que mais influenciou o resultado maior do IGP-DI entre os três pesquisados, segundo o economista da FGV.

Ele ressaltou que, diferentemente do que ocorreu em meses anteriores, quando o índice foi pressionado pelo avanço dos produtos agrícolas, o destaque absoluto foi a indústria. Houve alta em automóveis (de 0,04% para 1,05%); produtos siderúrgicos para a indústria de transformação (1,71% para 3,92%); fertilizantes (10,51% para 10,80%) e materiais para manufatura (1,52% para 2,38%).

A inflação nos materiais para a indústria foi a mais forte desde junho de 2006. Na análise de Quadros, o cenário de preços em alta no setor é influenciado por oferta mais reduzida de insumos, seguida por demanda crescente, tanto no mercado internacional como no interno.

A FGV também apurou preços em alta no varejo, cuja inflação quase dobrou (de 0,45% para 0,72%) de março para abril. Isso porque a alta dos preços dos alimentos mais que duplicou (de 0,62% para 1,69%). ¿Muitas matérias-primas dos produtos que estão em alta no varejo estão subindo também no atacado¿, justificou Quadros. É o caso das carnes bovinas (1,28%) e panificados e biscoitos (5,78%).

JUROS

Com a forte possibilidade de manutenção dos aumentos de preços detectados em abril, Quadros não descartou novas altas na taxa de juros (Selic), iniciadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em sua última reunião. ¿As pressões inflacionárias estão mais fortes agora do que há dois meses. Mas não é nenhum descontrole.¿