Título: Casa Civil culpa homem de Dirceu por vazamento
Autor: Mendes, Vannildo; Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2008, Nacional, p. A6

PF vai intimar secretário de Controle Interno, ligado ao ex-ministro, para depor como principal suspeito de ter divulgado dossiê sobre FHC

A Polícia Federal vai intimar o secretário de Controle Interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Pires, a explicar por que promoveu o vazamento do dossiê sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante sua gestão. O delegado Sérgio Menezes, encarregado do inquérito, disse que a sindicância da Casa Civil concluiu que Aparecido é o autor do vazamento. O inquérito da PF, embora ainda não tenha terminado, guarda simetria com as conclusões da Casa Civil.

O Estado apurou que provas ligando Aparecido a um funcionário do gabinete do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) já haviam sido recolhidas pelos auditores há vários dias. Mas o Planalto não queria tornar a auditoria pública antes do depoimento da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, na Comissão de Infra-Estrutura do Senado. Dilma falou aos senadores anteontem.

Uma troca de e-mails entre José Aparecido e André Eduardo da Silva Fernandes, funcionário do gabinete de Dias, nos dias 19 e 20 de fevereiro, foi a chave para rastrear o caminho do dossiê. Os e-mails tinham sido deletados, mas foram recuperados pelo Instituto da Tecnologia da Informação (ITI), órgão da Presidência da República que atuou na investigação a pedido da comissão de sindicância criada pela Casa Civil.

O ITI constatou que, na última mensagem, Aparecido mandou em anexo uma planilha com 28 páginas, com gastos da Presidência da República, confirmando assim a existência do dossiê. No dia 19, Aparecido sugere a Fernandes um almoço. No dia seguinte de manhã, o assessor de Dias diz que vai telefonar ¿na quinta¿. Às 10h46, o secretário responde: ¿André, leia o texto.¿ Segundo o ITI, é nessa última mensagem que Aparecido anexou a planilha.

O computador do secretário de Controle Interno foi um dos últimos apreendidos e só começou a ser periciado pelo ITI na sexta-feira. Na terça-feira, o resultado foi entregue à comissão de sindicância da Casa Civil.

Segundo o delegado Menezes, a constatação de que o vazamento partiu de Aparecido não causa surpresa, pois desde o início ele era um dos suspeitos. Até agora, porém, nem a apuração da Casa Civil nem a da PF identificaram quem determinou a elaboração do dossiê.

Menezes informou que vai requisitar cópia da sindicância para anexá-la aos autos. ¿Agora ficou mais fácil fechar o cerco sobre a autoria do vazamento¿, disse. Antes, porém, o delegado vai pedir à Justiça que afaste o sigilo do documento, a fim de preservar a validade da prova.

O inquérito da PF, que corre em segredo de Justiça, foi aberto em 7 de abril. Pouco depois a Casa Civil abriu a sindicância. Ontem, a 12ª Vara da Justiça Federal prorrogou por 30 dias o prazo para conclusão do inquérito. A oposição acusa o governo Lula de ter feito o dossiê como instrumento de chantagem política para impedir as investigações sobre gastos irregulares com cartões corporativos.

Com auxílio de técnicos do Instituto Nacional de Criminalística (INC), a PF realizou perícia em 13 computadores usados na digitalização dos gastos da Presidência. A lista dos intimados para depor na nova fase inclui, além de Aparecido, a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, que goza da confiança de Dilma, e o secretário de Administração, Norberto Temóteo Queiroz, o diretor de Orçamento e Finanças, Gilton Saback Maltez, e a funcionária Maria Soledad Castrillo.

Ao apontar Aparecido como responsável pelo vazamento, a sindicância da Casa Civil tira o escândalo da porta de Dilma. Motivo: a crise, a partir de agora, será jogada no colo do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que levou Aparecido, funcionário de carreira do Tribunal de Contas da União (TCU), para o Planalto no primeiro mandato do presidente Lula, em 2003.

A possibilidade de indicar a culpa do secretário de Controle Interno da Casa Civil já era comentada no Planalto desde abril. No dia 11 do mês passado, reportagem do Estado intitulada Vazamento de dossiê contra FHC abre guerra dentro da Casa Civil mostrava que havia ali uma disputa entre o grupo de Dirceu e o de Dilma.