Título: Mantega admite inflação acima a meta de 4,5%
Autor: Graner, Fabio; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2008, Economia, p. B15

Ministro nega `tolerância¿ com alta, mas diz que ela estaria no limite de 2 pontos, podendo chegar a 6,5%

e Renata Veríssimo

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, saiu ontem a campo para afirmar que a alta recente da inflação decorre de choques de oferta de produtos e pode ser acomodada na banda superior da meta de inflação. Mas ele rechaçou a interpretação de que isso seria uma atitude de tolerância com a inflação. No mesmo dia, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que não há motivo para ¿alarme¿ com a inflação, que ainda está próxima da meta do governo, de 4,5%.

Mantega destacou que os preços que estão subindo no Brasil são de produtos negociados internacionalmente como soja, trigo, milho e arroz, além de ¿insumos metálicos¿, como o aço. E é para situações dessa natureza, lembrou Mantega, que existe a tolerância de 2 pontos porcentuais da meta, que permite à inflação chegar a 6,5%.

¿A banda da meta foi feita justamente para choques de oferta. São fatores que fogem ao nosso controle. Os preços da economia brasileira, os preços estruturais, industriais, de serviços, etc. estão tendo comportamento normal e estão abaixo do centro da meta. Excluindo alimentos, nós estamos com inflação abaixo de 3%¿, afirmou ontem o ministro ao Estado.

O ministro disse que não há uma inflação decorrente do ritmo acelerado da economia brasileira. A visão é diferente da do Banco Central, que justifica a alta recente nos juros básicos dizendo que há sinais de inflação de demanda no Brasil. Na visão de Mantega, diante da falta de produtos no mercado internacional não há muito para o governo fazer.

¿O que podemos fazer é trabalhar para aumentar a oferta e tentar diminuir um pouco os preços. Mas é complicado¿, disse Mantega.

Segundo o ministro, essa elevação da oferta é feita por meio de uma política de preços mínimos (que garante ao produtor uma renda quando os preços de mercado caem), de melhora nas condições de financiamento, redução dos custos de logística e transporte, áreas que serão atacadas no pacote agrícola que o governo está estudando.

Mantega evitou dizer se sua análise sobre inflação quer dizer que não há necessidade de alta nos juros. ¿Essa é uma conclusão sua. Os juros reduzem demanda. Mas isso você tem que perguntar ao BC.¿

Irritado com a interpretação, publicada na imprensa, de que, ao dizer que a banda da meta de inflação existe para acomodar choques de oferta, estaria sugerindo maior tolerância com a inflação, Mantega divulgou ontem nota rejeitando tal entendimento. ¿Em momento algum eu sugeri tolerância com a inflação. Essa conclusão não está nem na entrevista nem é o que eu penso sobre o assunto¿, disse o ministro na nota.

Sem dizer se há ou não um choque de oferta na economia, o ministro Paulo Bernardo fez uma avaliação que tenta ser tranqüilizadora sobre a inflação. Para ele, que já defendeu a alta de juros promovida pelo Banco Central na última reunião, não há motivo para maiores temores em relação à inflação no País. ¿O IPCA está muito próximo da meta do governo. Portanto, não há motivo para alarme.¿