Título: Lobista dava fone de gabinete de Paulinho no esquema do BNDES
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2008, Nacional, p. A4

Preso pela PF e apontado como articulador do desvio de verba, Moura usava nome do deputado como referência

Apontado como artífice do desvio de verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e preso há 17 dias pela Polícia Federal na Operação Santa Tereza, o lobista João Pedro de Moura abria portas de repartições públicas e gabinetes de autoridades estaduais, municipais e federais dando como referência sua estreita ligação e amizade com o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT-SP).

A seus interlocutores entregava sempre o cartão de apresentação, no qual se identifica como assessor de gabinete do deputado. Seu endereço de trabalho, que consta do cartão, é o gabinete 217 do Anexo 4 da Câmara. É o gabinete de Paulinho. Telefone para contato e número de fax que ele dava em suas andanças pelo poder são os da sala do parlamentar.

No rastro de Moura, a PF passou a suspeitar de Paulinho. Pegou conversas do lobista com outros integrantes da organização falando em divisão de dinheiro. ¿Tem a parte do Paulinho¿, disse Moura, mais de uma vez. Para a Polícia Federal, Paulinho é Paulo Pereira da Silva.

¿Fez algumas viagens para Brasília, quando esteve no Congresso e visitou gabinetes de alguns deputados federais¿, assinala trecho de um relatório de investigação da PF sobre Moura. ¿Os agentes seguiram o investigado e captaram imagens dele entrando nos gabinetes.¿

A PF está convencida de que o lobista usava sua influência com políticos, principalmente Paulinho, para conseguir liberações de dinheiro do BNDES.

Transitava com facilidade por administrações municipais. Agindo em conjunto com o empresário Marcos Mantovani, consultor da organização que a Polícia Federal desarticulou, o amigo de Paulinho ofereceu negócios diversos a prefeitos dispostos a dividir lucro.

PARCEIRO

Sempre usando como parceiro maior o nome do parlamentar do PDT, o lobista percorreu cerca de 200 prefeituras, de acordo com a apuração policial. No dia 28 de fevereiro, Mantovani e Moura foram a reunião em uma prefeitura da Grande São Paulo. Por telefone, uma filha de Mantovani informou-o de que aquela prefeitura tinha um limite de crédito de R$ 96 milhões, dos quais só havia utilizado R$ 6 milhões.

Em 12 de fevereiro, depois de passar pelo gabinete de Paulinho, onde deixou uma mochila, recebeu ligação de Mantovani, que o questionou sobre resultados de sua passagem por Brasília: ¿Consegui todas as prefeituras do Rio, prefeituras da Paraíba e do Rio Grande do Norte, todas as cidades que tiverem mais de 100 mil habitantes¿, contou.

Investigando a ação do grupo em uma dessas cidades, Praia Grande, a PF começou a suspeitar que Paulinho teria sido beneficiado com parte do dinheiro desviado do BNDES. Alberto Mourão (PSDB), prefeito de Praia Grande, é alvo da Procuradoria da República. Ele nega irregularidades.

O relatório da PF descreve: ¿De dois milhões e seiscentos, um milhão e trezentos seriam divididos por Mantovani, entre ele próprio, Paulinho (possivelmente o deputado Paulo Pereira da Silva), Ricardo Tosto e José Gaspar (possivelmente José Gaspar Ferraz de Campos, vice-presidente estadual do PDT).¿