Título: Grampos mostram ação de grupo em 20 cidades de SP
Autor: Almeida, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2008, Nacional, p. A8

Procuradoria já pediu à Justiça investigação em 9 municípios; prefeitos, vereadores e assessores ouvidos pelo `Estado¿ negam irregularidades

Alvos da Operação Santa Tereza, da Polícia Federal, acusados de usar contatos e influência para obter financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com pagamento de propina, citam nos grampos ações em pelo menos 20 cidades - todas paulistas. São contatos com prefeitos, vereadores e assessores, ou sondagens com funcionários das prefeituras. Todos foram procurados pelo Estado para explicar os diálogos descritos nos grampos.

A Procuradoria da República em São Paulo já enviou documento à Justiça Federal pedindo investigação em 9 delas: Caieiras, São João da Boa Vista, Itapira, Conchal, São Sebastião da Grama, Nova Odessa, Praia Grande, Itu e Guarujá. As gravações apontam ainda contatos em outros 11 municípios: Atibaia, Jarinu, Cubatão, Pariquera-Açu, Guarulhos, Cananéia, Francisco Morato, Jundiaí, Iguape, Peruíbe e Paraíso.

O então assessor do deputado Roberto Santiago (PV), José Brito de França, exonerado do cargo após as denúncias da PF, peregrinou por diversas prefeituras paulistas. Em Francisco Morato, na Grande São Paulo, ele propôs um contrato de iluminação pública para Joel Aquino, assessor da prefeita Andrea Pelizari (PSDB).

Aquino trocou e-mails com Marcos Mantovani, da Progus Consultoria, com cópia para Brito, nos quais eram discutidos valores do projeto. Mantovani, considerado pela PF o consultor da quadrilha, esperava uma resposta oficial de Aquino.

¿O que precisava mesmo é a intenção de a prefeitura investir na iluminação pública para os próximos cinco anos, conforme combinamos por telefone¿, diz Mantovani, em e-mail enviado a Aquino no dia 1° de abril. ¿Já discutimos os valores, que seriam de R$ 800 mil por ano.¿

O assessor afirma ter dado seguimento à negociação, pois o contrato com a Elektro, distribuidora de energia da cidade, estava vencido. A operação com a Progus, porém, teria esbarrado na demora de Aquino. ¿Não fomos adiante porque não tínhamos corpo técnico para preencher um formulário.¿

Brito também utilizava sua influência no PV para entrar em contato com prefeituras ligadas à sigla. Em Atibaia, do prefeito verde Beto Trícoli, um grampo aponta Brito utilizando o nome de Silvio Lessa, presidente do partido na cidade, para chegar à prefeitura.

Já o lobista João Pedro de Moura, que se apresenta como assessor do deputado Paulo Pereira da Silva (SP), tentava estabelecer relações com quadros ligados ao PDT. Em São João da Boa Vista, cidade citada pela procuradoria, ele foi ciceroneado pelo vereador Francisco Artem (PDT).

Segundo Artem, a idéia era trabalhar uma emenda parlamentar para a cidade, solicitada a Paulinho. ¿Nunca falamos em BNDES, e ele não fez qualquer insinuação. Achei ele cheio de planos, cheio de idéias, com coisas faraônicas, mas nada dentro da ilegalidade¿, diz.

O prefeito Nelson Nicolau (PMDB) afirma que não houve reunião. ¿Ele veio tomar um café comigo. Foi uma visita efetivamente social e política. A verba para infra-estrutura da emenda do Paulinho a gente nem sabe se foi empenhada ou não.¿

Nas demais cidades, os casos são semelhantes. Em Jundiaí, o coronel Wilson Consani Júnior diz ter boa circulação na prefeitura, pois seu pai foi chefe de gabinete do prefeito Ary Fossen (PSDB). ¿O pai dele (Consani) era meu assessor na Assembléia. Conversei com o filho dele uma ou duas vezes. Até o receberia, por saber quem é, mas nunca aconteceu¿, diz Fossen.