Título: Alta do petróleo atrai investimentos ao País
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2008, Economia, p. B6

Disparada internacional viabiliza exploração de novas reservas e traz recursos para a produção de etanol

Apesar dos efeitos nocivos sobre a economia global, especialistas concordam que o Brasil tem a ganhar com a disparada do petróleo no mercado internacional. Além de viabilizar a exploração de reservas em águas ultraprofundas, os altos preços do petróleo garantem o caixa para os gigantescos investimentos nas reservas abaixo da camada de sal. A valorização do etanol como alternativa aos derivados de petróleo é outro ponto positivo para o País.

¿O alto preço do petróleo torna o negócio do etanol altamente lucrativo e é grande incentivo para atrair investimentos para a cadeia da cana-de-açúcar¿, diz o professor do Ibmec Ruy Quintans, especialista em finanças e gestão de negócios. De fato, nos últimos anos houve uma enxurrada de estrangeiros interessados no setor. Gente como o megaespeculador George Soros, os fundadores da Microsoft, Bill Gates, e do Google, Larry Page e Sergey Brin.

A petroleira britânica BP é uma das que decidiram apostar no negócio. A empresa anunciou no mês passado a compra, por R$ 100 milhões, de metade do capital da Tropical Bioenergia, joint venture dos grupos Maeda e Santelisa Vale. A União da Agroindústria Canavieira (Unica) estima que até 2012 o setor receba US$ 30 bilhões em investimentos, gerando 1 milhão de empregos.

Enquanto não convencem o mercado externo dos benefícios do combustível, os investidores vêm encontrando espaço para crescer dentro do País. Dados preliminares do Balanço Energético Nacional (BEN), divulgados esta semana pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), indicaram que a cana-de-açúcar ultrapassou a energia hidrelétrica na lista das principais fontes de energia no País. As vendas de álcool cresceram 46% em 2007.

No caso da exploração de petróleo, é consenso que os altos preços ajudam a viabilizar novas jazidas. Embora as reservas do pré-sal sejam viáveis com o petróleo a partir dos US$ 35 por barril, um caixa mais robusto contribui para bancar os custos crescentes de serviços e equipamentos. A perfuração de um poço com profundidade para atingir os reservatórios abaixo do sal custam de US$ 60 milhões a US$ 80 milhões.

Efeitos maléficos existirão, principalmente caso a inflação provocada por petróleo e alimentos provoque retração do ritmo da economia mundial, mas é fato que o Brasil está hoje menos vulnerável aos movimentos do petróleo do que nos dois choques da década de 70. Além da crescente participação do álcool na matriz energética, o País produz hoje a mesma quantidade de petróleo que consome, em torno dos 1,9 milhão de barris por dia.

Em 1973, o Brasil produzia 20% do consumo. Em 79, com o aumento do consumo, produzia 14%. A auto-suficiência garante à Petrobrás maior margem de manobra para evitar grandes oscilações de preços no mercado interno. O professor Edmar Almeida, do Instituto de Economia da UFRJ, porém, não descarta uma pressão inflacionária, principalmente após o reajuste do diesel, no início do mês. ¿Sobe a passagem de ônibus e o custo do frete, com impacto nos índices de atacado, que regulam contratos de concessão, por exemplo.¿