Título: Bens de capital e inovação terão destaque
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2008, Economia, p. B11

Uma das preocupações do governo é frear a enxurrada de importados, principalmente chineses

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, já adiantou que a nova política industrial não deixará de fora nenhum setor da economia e citará nominalmente 24 deles. Nos bastidores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), contudo, o que se comenta é que, apesar da abrangência, o conjunto de medidas terá um centro e ele estará focado em dois importantes segmentos industriais: bens de capital e inovação tecnológica.

Uma das principais preocupações do governo é assegurar a competitividade e frear a enxurrada de produtos importados, especialmente da China, no mercado brasileiro. Para isso, entre outros instrumentos, a indústria de máquinas e equipamentos contará, pela primeira vez, com prazo de financiamento de dez anos, seguindo a média internacional. Hoje, a média do BNDES para estes empréstimos é de cinco anos.

Amanhã, quando for anunciada formalmente, na sede do banco, a Política de Desenvolvimento Produtivo - com medidas de desoneração fiscal, redução de impostos e aplicação de taxas de juros mais atraentes ao setor produtivo - deve ficar evidente a ênfase a esses segmentos na base do programa.

Mas, ao contrário da primeira tentativa de incentivo à indústria no governo Lula, no fim de 2003, quando a política industrial se resumiu a quatro setores - bens de capital, semicondutores, software e farmacêutico -, dessa vez não haverá definição explícita de prioridades.

¿A expectativa de toda a indústria é que dessa vez tenhamos uma política bastante abragente, com cada setor sendo contemplado em suas necessidades¿, diz o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). ¿Não consideramos que deveríamos escolher quais seriam os vencedores e quais seriam os perdedores. Isso não é papel do governo¿, afirmou o ministro Miguel Jorge, ao Estado, na última quinta-feira.

A indústria, historicamente o setor da economia que mais recorre aos financiamentos do BNDES, com participação média de 50% nos recursos, vem perdendo espaço para a infra-estrutura nas estatísticas do banco. No período de 12 meses encerrado em março, dos R$ 70,1 bilhões liberados em financiamentos, 41% foram para a indústria e 40% para a infra-estrutura (energia, transporte, telecomunicações e construção).

Ao comentar a nova política industrial, mesmo sem entrar em detalhes, o presidente do BNDES, um dos idealizadores do programa, já havia afirmado que ¿o essencial é criar condições para que o processo de investimento flua de maneira mais dinâmica¿. Nesse sentido, além de estender-se pelo maior número possível de segmentos, o plano vai explicitar condições de financiamento mais acessíveis, inclusive para pequenas e médias indústrias.

¿Na década de 80, a indústria brasileira de máquinas e equipamentos era a 5ª maior do mundo, hoje é a 14ª. Nestes quase 30 anos, o setor de bens de capital, além de perder competitividade, foi ultrapassado por países como a China. A proposta trará avanços significativos, como o reconhecimento estratégico da indústria de máquinas e equipamentos, a desoneração dos investimentos, o alongamento dos financiamentos e o incentivo à inovação tecnológica¿, diz Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq.