Título: BNDES destinou R$ 7,7 bi em 2 anos para fortalecer empresas nacionais
Autor: Brandão Junior,. Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2008, Economia, p. B12

Operações foram realizadas com a entrada no capital de empresas e financiamentos para tornar viáveis aquisições

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinou nos últimos dois anos pelo menos R$ 7,7 bilhões para operações de fortalecimento e formação de grupos nacionais mais robustos. As operações deram-se, basicamente, com a entrada no capital de empresas e financiamentos para empresas de variados portes tornarem viáveis aquisições. Os setores foram os de telecomunicações, carnes, farmacêutico, aeronáutica e engenharia, dentre outros.

O levantamento foi feito pelo Estado com base no anúncio de operações feitas pelo banco neste período. As operações seguem o que o próprio presidente da instituição de fomento, Luciano Coutinho, costuma chamar de ¿novo paradigma¿ de nacionalismo. Um modelo em que, segundo ele, diferentemente do passado, não se busca produzir artificialmente o desenvolvimento empresarial. Mas em áreas estratégicas, em operações consistentes, com retorno - e sem discriminar o capital estrangeiro, prega o banco.

A lista dessas operações inclui desde a bilionária entrada no capital da Bertin, que atua principalmente na agroindústria e outras áreas, até a relativamente pequena Mectron, uma fornecedora do setor aeronáutico. Tome-se o caso da Bertin - ainda em curso - como exemplo. O banco aprovou uma compra de ações da holding no valor de R$ 2,5 bilhões, passando a deter 27,5% do capital.

Com isso, a empresa ganhará fôlego para novas aquisições, especulam analistas de mercado. Oficialmente, a Bertin informa que aplicará os valores conforme o plano de negócios. O grupo, que comprou a Vigor em novembro do ano passado, estaria de olho em ativos no Brasil e exterior. No caso da Mectron, foi aprovado, no fim de 2006, apoio financeiro de R$ 15 milhões, por meio de aquisição de ações pela BNDESPar, braço do banco para atuação no mercado de capitais.

¿O banco se beneficia fortemente desses investimentos, que acabam representando uma fonte de lucro para a instituição¿, disse uma fonte que acompanha o BNDES. Apenas em 2007, o resultado das participações societárias do banco somou R$ 5,497 bilhões. Desse total, R$ 3,224 bilhões foram em resultado de venda de participações, R$ 1,407 bilhão em dividendos e R$ 981 milhões, de equivalência patrimonial.

Outro caso recente foi o financiamento para a reestruturação acionária da empresa controladora do Grupo Oi. Acionista relevante do negócio, o BNDES financiou a consolidação do controle nas mãos dos empresários Carlos Jereissati, e Sergio Andrade. Em paralelo, a operadora compra a Brasil Telecom (BrT), com o objetivo de estruturar um grupo nacional de relevo no setor. A operação levantou críticas, já que o banco está com uma grande demanda por recursos, mas a operação, segundo o BNDES, está em linha com a cartilha da nova política industrial.

No setor farmacêutico, uma das linhas do banco prevê, claramente, a consolidação de grupos nacionais. Segundo o banco, a linha Profarma-Reestruturação envolve ¿operações de incorporação, aquisição e fusão de empresas que resultem na criação de empresa de controle nacional de maior porte ou verticalizadas¿.