Título: Divergências no governo e fim da CPMF adiaram as medidas
Autor: Silva, Cleide; Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2008, Economia, p. B3

Perda de receitas deixou a nova política industrial em segundo plano

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, deve ter perdido as contas de quantas vezes marcou data para anunciar a nova política industrial, inicialmente prevista para o ano passado. Em junho, três meses após assumir o ministério, ele informou de que ¿em dois ou três meses¿ o governo lançaria as medidas.

Desde então, o anúncio vem sendo atropelado. Primeiro foi a necessidade de ajustes por causa do fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), depois foi a espera da votação do Orçamento Geral da União e, mais recentemente, os ajustes para enfrentar o déficit da conta corrente. Divergências entre os Ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento e o BNDES também atrapalharam.

Em agosto, Jorge defendia que a política sairia ¿em um mês¿. Em outubro, chegou a dizer que seria anunciada no fim daquele mês, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltasse de uma viagem. Dias depois, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, também prometeu o lançamento para ¿as próximas semanas¿.

Em dezembro, após o Congresso acabar com a CPMF, o ministro Guido Mantega disse que a política industrial seria suspensa. Dias depois, Jorge negou a suspensão e garantiu que apenas seriam feitos ajustes para o lançamento ¿na segunda quinzena de janeiro¿.

A insegurança era em relação à perda da receita de R$ 40 bilhões da CPMF, que empurrou a política industrial para uma espécie de limbo, do qual foi retirada com a arrecadação recorde de US$ 161,7 bilhões em tributos da União, mesmo sem a CPMF, no primeiro trimestre do ano.

MUDANÇA DE CENÁRIO

No fim de fevereiro, Jorge já tinha um novo prazo: meados de março. ¿O presidente Lula determinou que a política industrial seja anunciada uma semana depois da aprovação do Orçamento¿, informou ele na ocasião, ressaltando que o texto estava pronto desde novembro.

No início de março, Jorge estendeu o prazo para ¿entre 7 e 9 de abril¿. No último dia 23, o governo fixou a data de 12 de maio.

Nesses vários meses de idas e vindas, o panorama econômico mudou. No plano externo, ficou mais clara a ameaça de recessão nos Estados Unidos, assim como o aumento nos preços internacionais dos alimentos.

No plano interno, o Brasil assistiu à redução do saldo comercial em razão do impacto da valorização do câmbio no crescimento menor das exportações e na aceleração das importações.

O primeiro trimestre teve déficit de US$ 10,7 bilhões nas transações correntes (resultado do comércio de bens e de serviços com o exterior) e com sinais de escalada nos índices de preço. Em março, a produção industrial reduziu seu ritmo.