Título: Nova onda de protecionismo abala produção de alimentos
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2008, Economia, p. B7

Depois dos grãos, agora é a vez dos insumos agrícolas virarem alvo

Uma nova onda protecionista no mercado mundial de alimentos está se desenhando. Depois de vários países terem segurado recentemente as exportações de grãos, como arroz e trigo, para garantir o abastecimento interno diante da escassez de produtos, agora é vez dos insumos, alerta o economista da MB Associados, Alexandre Mendonça de Barros.

No mês passado, a China, maior consumidora de adubos, com 30% da demanda mundial, bloqueou as exportações de fertilizantes com tarifas. ¿Há uma nova onda protecionista, agora sobre os fertilizantes¿, diz o economista.

Se for seguida por outros países, a decisão da China representa um risco para o Brasil, uma potência agrícola, mas fortemente dependente das compras externas de adubos. No ano passado, a matéria-prima importada para a produção de fertilizantes representou 72% do total consumido no País.

Com a produção doméstica de adubo mantida nos próximos anos, a participação do produto importado deverá representar 85% do consumo brasileiro em 2025 , projeta estudo da consultoria MB Associados.

¿No solo tropical do Cerrado, não há como ampliar a produção de alimentos e agroenergia sem fertilizante¿, afirma Mendonça de Barros, responsável pelo estudo. Segundo ele, o Brasil - tido como o único país que tem capacidade para despejar mais comida no mercado mundial sem afetar a produção de bioenergia por causa da abundância de terras agricultáveis - está com esse potencial ameaçado no curto prazo por causa da restrições de fatores de produção.

Hoje o Brasil é o quarto maior consumidor mundial de adubos, com 6% do total, atrás da China (30%), Índia (14%) e Estados Unidos (12%). Em contrapartida, o País responde por apenas 1% da produção de adubos nitrogenados e derivados de potássio e 4% dos adubos fosfatados. Segundo o economista, a baixa disponibilidade de fontes naturais de matérias-primas, o elevado custo de capital para novos investimentos na produção e a falta de isonomia tributária entre produto nacional e importado inibem projetos de fábricas de fertilizantes.

De toda forma, a explosão dos preços dos fertilizantes no mercado internacional, que nunca estiveram tão elevados - subiram 240% em dólar entre janeiro e abril - e agora bateram no bolso do produtor brasileiro, é fruto do desequilíbrio entre a demanda e oferta mundial.

Projeções da associação internacional da indústria de fertilizantes (IFA) indicam que o consumo mundial deverá atingir neste ano 175,8 milhões de toneladas de nutrientes, com aumento de 5,5 milhões toneladas em relação a 2007. Nos cálculos do economista, serão necessários pelo menos três anos para retomar o equilíbrio entre demanda e oferta de adubos.

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