Título: Terremoto na China deixa 10 mil mortos
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2008, Internacional, p. A12

Outras 10 mil pessoas são soterradas numa só cidade da região centro-sul; tremor de 7,9 graus é sentido em várias partes do país e no exterior

O centro da China foi atingido ontem por um forte terremoto de 7,9 graus na escala Richter, que durou três minutos, provocou a morte de pelo menos 10 mil pessoas e tremores de terra na maior parte do país e em regiões vizinhas, como Tailândia, Vietnã e Paquistão. O número de mortos pode ser bem maior, já que, segundo a agência Nova China, só em uma cidade, Mianzhu - onde já foram confirmadas 1.500 mortes -, outras 10 mil pessoas foram soterradas e os trabalhos de resgate são difíceis.

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Mianzhu fica perto do epicentro do terremoto, Wenchuan. Até a manhã local de hoje (noite de ontem no Brasil), as equipes de resgate não haviam conseguido chegar a Wenchuan, que tem 112 mil habitantes e fica 146 quilômetros a noroeste de Chengdu, capital da Província de Sichuan, região bastante montanhosa.

Novecentos adolescentes foram soterrados com o desabamento de uma escola na cidade de Dujiangyan, em Sichuan (leia abaixo). Pelo menos outras sete escolas desmoronaram.

Um dos locais que sofreram mais danos foi o distrito de Beichuan, também em Sichuan, onde 80% dos edifícios desabaram e entre 3 mil e 5 mil pessoas morreram - a população total é de 160 mil habitantes. Segundo o governo chinês, há registros de vítimas nas Províncias de Gansu, Chongqing e Yunnan. Na cidade de Shifang, também em Sichuan, centenas de pessoas foram soterradas com o desabamento de duas indústrias químicas, o que causou o vazamento de 80 toneladas de amônia e forçou a retirada de 6 mil pessoas (leia na página ao lado).

TREMORES SECUNDÁRIOS

O tremor começou às 14h28 de ontem, horário local (1h28 de Brasília). Sete minutos depois, um novo terremoto de menor intensidade - 3,9 pontos na escala Richter - foi registrado em Pequim, situada a 1.500 quilômetros de distância.

Várias cidades em diferentes regiões da China foram atingidas. Em todas elas, milhares de moradores e funcionários de empresas deixaram os edifícios onde estavam e foram para as ruas, com medo de mais tremores. Em Xangai, o mais alto edifício da cidade, a Jin Mao Tower, de 88 andares, foi esvaziado. Em Pequim, as principais avenidas estavam ocupadas por grupos de pessoas que haviam abandonado os prédios e se reuniam nas calçadas, enquanto caminhões de bombeiros passavam a toda a velocidade com as sirenes ligadas.

Cerca de 5 mil oficiais e soldados do Exército de Libertação Popular e 3 mil policiais viajaram para Wenchuan, onde ocorreu o epicentro do terremoto, para coordenar as operações de emergência (mais informações na página ao lado). O aeroporto de Chengdu, cidade de 10 milhões de habitantes, foi fechado logo depois do terremoto e a comunicação por celular tornou-se praticamente impossível.

A possibilidade de os tremores se repetirem durante a noite manteve várias pessoas nas ruas. Segundo o jornal oficial China Daily, funcionários de hotéis na cidade orientavam os hóspedes a ficar fora de seus quartos e muitos deles estavam reunidos nos andares térreos. Depois do terremoto principal, de 7,9 graus na escala Richter, várias réplicas - tremores secundários de menor intensidade - foram sentidos na região.

RELATO

¿Às 14h35 de ontem eu estava em meu escritório e precisei de uma fração de segundo para perceber que experimentava o primeiro terremoto da minha vida. Continuei sentada e vi claramente o apartamento movendo-se na horizontal. Do 20º andar, eu olhava pela janela e não conseguia distinguir sinais de pânico nas pessoas e carros que continuavam a andar. Talvez a altura tenha potencializado a percepção de que a terra se movia. Além da surpresa, senti uma sensação de enjôo, semelhante à quando estou em barcos em alto-mar. Aparentemente, é um sintoma comum, já que todas as pessoas com quem conversei depois do terremoto relataram a mesma sensação.¿ Cláudia Trevisan