Título: Para analistas, plano não ataca infra-estrutura
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2008, Economia, p. B6

Pacote também é considerado inadequado porque não contém uma redução generalizada de impostos

O pacote de política industrial anunciado ontem pelo governo não atacou os pontos básicos para o deslanche da indústria brasileira, como a remoção de obstáculos aos investimentos em infra-estrutura e redução, de forma ampla, da carga tributária, avaliaram economistas ouvidos pelo Estado.

¿Trata-se de um pacote inadequado em relação ao que realmente a indústria precisa para crescer¿, afirmou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Ele destacou que, antes de atacar os pontos microeconômicos setoriais, é necessário dar condições básicas para desobstruir os entraves da infra-estrutura, especialmente de transporte rodoviário e marítimo, e diminuir os impostos incidentes sobre a produção de forma generalizada.

¿O enfoque do pacote é prematuro e pode significar mais gastos públicos porque não existem as condições básicas para impulsionar o crescimento.¿

Essa avaliação é compartilhada pela economista-chefe para Brasil do Banco Real, Zeina Latif. ¿A agenda de política industrial hoje é outra¿, disse a economista. Para ela, a indústria precisa de políticas horizontais, que incluem a redução da carga tributária de forma generalizada, a criação de condições regulatórias para tornar viável os investimentos em infra-estrutura e a maior abertura da economia. Se forem feitas essas mudanças, ela acredita que as empresas se ajustarão naturalmente. ¿A saída é dar as condições que o mercado se encarrega de ajustar.¿

Com medidas setoriais como as anunciadas no pacote de política industrial, Zeina acredita que o governo corre o risco de criar mais distorções no mercado com isenções tributárias específicas. Ela considera ¿antigo¿ o modelo de política industrial com medidas setoriais específicas, que elegem um determinado segmento e dá incentivos. Na opinião da economista, com o pacote anunciado, queima-se uma etapa anterior na condução política industrial, que é justamente a de criar as condições gerais macroeconômicas para o crescimento.

Do ponto de vista prático, o impacto do pacote não será sentido no curto prazo. ¿O investimento vai aumentar porque o País passa hoje por um processo generalizado de crescimento, independentemente da política industrial¿, disse o diretor da RC Consultores, Fábio Silveira. O mesmo raciocínio é válido para a produção industrial, que deve crescer no curto prazo puxada pelo mercado interno.

Silveira lembrou que políticas setoriais têm, por definição, resultados efetivos no médio e longo prazos. ¿Essas ações deveriam ter sido feitas no passado, mas antes tarde do que nunca¿, disse o economista.

Na análise de Sergio Vale, da MB Associados, o investimento cresceria mesmo sem o pacote industrial, que prevê que a formação bruta de capital fixo, hoje em 16,8% do Produto Interno Bruto (PIB), suba para 21% do PIB em 2010.

Essa também é a avaliação da Rosenberg Associados. Thaís Marzola Zara, economista-chefe da consultoria,observou que o pacote pode ajudar a atingir essa meta. ¿O pacote neutraliza parcialmente os efeitos negativos da elevação da taxa básica de juros, a Selic, nos investimentos produtivos¿, afirmou Thaís.

Em relação à meta de exportação de US$ 210 bilhões em 2010, contida no pacote, o economista Leonardo Miceli, da Tendências, ponderou que não se trata de algo extraordinário, diante do que ocorreu nos últimos anos. Tanto é que a consultoria estima exportações maiores, de R$ 227 bilhões em 2010, sem o pacote industrial.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 13/05/2008 04:51