Título: Mantega anuncia criação de fundo soberano que poderá ter R$ 20 bi
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2008, Economia, p. B12

Principal fonte de recursos será o superávit primário, mas também poderá haver captações no mercado mundial

O governo Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem, durante o lançamento da nova política industrial, a criação de um fundo soberano, que terá no superávit primário do setor público a sua principal fonte de financiamento.

O fundo poderá ser alimentado também pelos recursos das reservas internacionais e, dentre as suas finalidades, deverá cobrir parte do orçamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos próximos anos, em especial as linhas destinadas a financiar a internacionalização de companhias brasileiras.

¿Parece (que o fundo terá US$ 20 bilhões). Mas nem tudo que parece é¿, desconversou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que apresentará hoje, em Brasília, o montante total de recursos e os detalhes sobre o seu funcionamento.

¿O funding será, sobretudo, o superávit primário das contas públicas¿, afirmou Mantega, depois de ter reconhecido que pode haver captações de recursos no exterior.

Ontem, na cerimônia de lançamento da segunda política industrial do governo Lula, Mantega foi chamado uma segunda vez ao púlpito especialmente para anunciar a criação do fundo. A menção a esse projeto foi incluída entre as novas medidas sistêmicas - com impacto em todos os setores produtivos - da política industrial.

Do ponto de vista da Fazenda, há uma tendência internacional de criação de fundos soberanos e o Brasil não poderia esquivar-se de seguir esse modelo. Os fundos tornaram-se mecanismos relevantes na organização dos países para o investimento, segundo essa versão, e o Brasil não poderia escapar de seguir esse modelo.

Outra razão estaria nos resultados positivos registrados nas contas públicas no primeiro trimestre deste ano e nas reservas internacionais do País, que abririam margem para a criação de um fundo para possíveis momentos de ¿vacas magras¿ da economia brasileira.

No mercado, a medida é avaliada também como uma saída para o governo enxugar o excesso de dólares que ingressa na economia brasileira, que tende a aumentar com a elevação do Brasil à categoria de país com baixo risco para os investimentos (grau de investimento).

O fluxo de dólares no País tornou-se um dos principais fatores da valorização do real e, conseqüentemente, de elevação do déficit nas transações correntes - o resultado do comércio de bens e de serviços do Brasil com o exterior.