Título: Paulinho disse para Tosto ficar no BNDES
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2008, Nacional, p. A13

Segundo grampo da PF, deputado insiste para advogado ficar no banco

O deputado Paulo Pereira da Silva, Paulinho da Força (PDT-SP), tentou convencer o advogado Ricardo Tosto a não pedir afastamento do Conselho de Administração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), revela grampo da Polícia Federal.

¿Você não devia pedir (afastamento), não. Não sai não, cara¿, sugere Paulinho, na conversa com Tosto interceptada pela PF dia 27 de abril, às 13h22.

Diante da insistência de Tosto, o deputado é taxativo: ¿Mas aí você tem que mandar lá para a Força (Sindical). Nós não vamos concordar que você saia.¿

Tosto, indicado pela Força Sindical para o conselho do BNDES, estava em sua residência quando fez o contato com Paulinho. O grampo ocorreu no domingo seguinte à libertação do advogado, que a Operação Santa Tereza aponta como integrante da organização que desviava recursos do banco estatal. Naquele dia, Tosto assinou carta ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho, pedindo para deixar o cargo até a conclusão das investigações.

A integra do diálogo entre Paulinho e Tosto faz parte do relatório 10, que a PF entregou ontem à Justiça Federal. O documento aponta os últimos movimentos do grupo, durante e após a Santa Tereza.

O deputado abre a conversa em tom desafiador. ¿E aí, galego? Estamos apanhando, mas vamos enfrentar esse povo que estão (sic) pisando na bola com nós aí.¿

O advogado demonstra preocupação em identificar a origem da operação que o deteve. ¿Quem é que está por trás disso, Paulinho?¿ O deputado se propõe a descobrir.

Tosto pede a Paulinho que fale com o presidente Lula, que havia criticado o advogado ao comentar sobre o desvio no BNDES. ¿O Lula falou um absurdo de mim¿, queixou-se Tosto. ¿Dá para você falar com ele?¿ Para o deputado, a manifestação do presidente ¿foi favorável¿ a Tosto. ¿Mas dá uma palavrinha com ele (Lula) de novo...tenta aí...¿, insiste o advogado.

O relatório 10 indica que o grupo preparava golpe espetacular nos cofres do BNDES, do qual pretendia tomar R$ 1,3 bilhão. Parte, R$ 300 milhões, seria transferida para um frigorífico. O restante, R$ 1 bilhão, irrigaria empreendimento internacional - construção de rodovias na Argentina e no Peru.

O relatório 10 crava que o lobista João Pedro de Moura usava freqüentemente o nome de Paulinho para abrir portas.

No dia 18 de abril, às 17h30, Moura telefonou para um prefeito paulista. ¿Falam a respeito de uma verba federal do Ministério das Cidades¿, assinala o documento. ¿Moura diz que é assessor do deputado Paulo Pereira e conseguiram, através de uma emenda, a liberação de verba para o prefeito.¿

A PF ressalta que na véspera da operação, às 22h58 de 23 de abril, o coronel Wilson Consani, homem de confiança de Paulinho, telefonou para José Gaspar, vice-presidente do PDT. ¿Destaca-se a preocupação relativa ao possível envolvimento do deputado e o envolvimento de ONGs.¿

HONESTO

Para o criminalista José Roberto Batochio, defensor de Tosto, o diálogo com Paulinho não representa intenção de lobby junto ao Palácio do Planalto. ¿Tosto se viu execrado publicamente por uma acusação que não é procedente¿, reagiu Batochio. ¿A imprensa procurou repercutir essa acusação com o presidente e Lula teria se manifestado sobre os fatos em tese. Tosto é homem de bem, honesto. É referência incontestável da advocacia. Sentiu-se atingido e pediu para o Paulinho esclarecer sua inocência junto a Lula. Não houve intenção de fazer pressão.¿

Paulinho não dá declarações sobre a Santa Tereza. Seu advogado, Antonio Rosella, reputa ¿absurdas¿ as acusações. Para ele, os autos contêm ¿meras interpretações¿. Ele diz que não existe prova ou mesmo indício de envolvimento de Paulinho.

TRECHOS DO DIÁLOGO

Paulinho: E aí galego? Estamos apanhando, mas vamos enfrentar esse povo que estão pisando na bola com nós aí.

Tosto: Quem é que está por trás disso, Paulinho?

Paulinho: Descobrir, né?

Tosto: Você não acha que tem alguém por trás?

Paulinho: Deve ter, né? Não é possível que os caras pegam indícios, né? Não é nem indício, né? O cara entra na minha sala, ou você... alguém citou teu nome.

Tosto: Negócio de doido, né. Desce o cacete aí...a Força...tudo...eu vou fazer uma carta pedindo afastamento do BNDES para que apurem melhor..tudo...E pedindo investigação no BNDES.

Paulinho: Você não devia pedir não. Não sai não, cara.

Tosto: Não. Não vou renunciar, vou pedir afastamento...temporário para facilitar a investigação.

Paulinho: Mas aí você tem que mandar lá para a Força. Nós não vamos concordar que vc saia não.

Tosto: Então aí tudo bem. E tem que fazer desagravo aí. Pô...organiza, põe o D¿Urso para fazer desagravo. Quanto mais desagravo da sociedade civil é melhor.

Paulinho: Eu acho que vou convocar, não sei se vc viu o que saiu no Estadão de hoje. Eu vou falar com o Arlindo e vamos convocar o superintendente da PF lá na Câmara e também convocar o ministro da Justiça para eles se explicarem.

Tosto: Tá. E o Lula falou um absurdo de mim. Dá para vc falar com ele?

Paulinho: Na prática a declaração dele foi favorável.

Tosto: Mas dá uma palavrinha dele de novo...tenta aí...

Paulinho: Tô trabalhando.