Título: Paulinho ficou desesperado, revela grampo
Autor: Macedo, Fausto; Almeida, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2008, Nacional, p. A9

Deputado prometeu tirar da prisão o coronel Cosani, apontado como operador do esquema

O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) ficou ¿desesperado¿ com a Operação Santa Tereza, que desmontou suposto esquema de desvio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Paulinho se comprometeu a providenciar advogado e até a tirar da prisão o coronel da Polícia Militar Wilson Consani, seu amigo e homem de confiança, apontado pela Procuradoria da República como um dos principais operadores da trama BNDES.

As informações constam do relatório 10 da Polícia Federal - 35 páginas que descrevem a reação de alvos da missão e alguns de seus familiares. Todos caíram no grampo da PF, autorizado judicialmente.

Adriana Consani, mulher do coronel Wilson Consani, foi interceptada dia 25 de abril, às 9h54. Ela telefonou para o marido, que estava preso na Custódia da PF desde o dia anterior, capturado pela Santa Tereza. Adriana disse ao marido que estava ligando a pedido de Miguel, que a PF acredita ser dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

O relatório resume a conversa do casal Consani, com 6 citações a Paulinho. ¿Adriana diz que o Paulinho está mandando um advogado para Consani e é para ele (coronel) ficar tranqüilo. Adriana diz que o Paulinho Pereira ligou para ela e disse que todo mundo que foi preso ninguém está preocupado...Consani pergunta o que o Paulinho falou. Adriana diz que o Paulinho está desesperado e falou para Consani ficar despreocupado que ele (Paulinho) irá tira-lo de lá, diz que ele (Paulinho) está muito preocupado.¿

Adriana contou ao coronel que, no dia da operação, 24 de abril, esteve em sua residência o lobista José Brito de França. Segundo a PF, França agia em parceria com João Pedro de Moura, amigo e ex-assessor de Paulinho. Moura está preso.

O relatório 10 da PF confirma que na véspera da operação, às 22h58 de 23 de abril, o coronel Consani ligou para José Gaspar, vice-presidente do PDT. O militar estava empenhado em alertar Paulinho sobre os passos da PF. ¿Continua avisando sobre a deflagração da operação¿, diz o relatório. ¿Destaca-se a preocupação relativa ao possível envolvimento do deputado Paulo Pereira da Silva e o envolvimento de ONGs.¿

A PF identificou dois depósitos, no valor total de R$ 119,5 mil, realizados por integrantes do grupo em favor da Meu Guri, ONG presidida por Elza Pereira, mulher de Paulinho, e da Luta e Solidariedade - segundo a PF, esta ONG é dirigida por Eleno Bezerra, vice-presidente da Força Sindical.

Fábio Leme Cavalheiro, advogado do coronel, declarou que o oficial ¿tem pleno interesse¿ em prestar os esclarecimentos necessários. ¿Ele (Consani) não conhece esquema BNDES, nunca fez nenhum pedido ao banco nem sequer acompanhou processos de empréstimos¿, disse o advogado. Ele reclamou que ainda não teve acesso aos autos da Santa Tereza e rebateu informação de que teria sido indicado por Paulinho. ¿Nosso escritório advoga para muitos oficiais.¿

Paulinho da Força não faz declarações sobre o caso BNDES. Seu advogado, Antonio Rosella, reputa ¿absurdas¿ as acusações. Rosella classifica de ¿meras interpretações¿ os grampos da PF.