Título: Só uma escola pública da capital está entre as 30 melhores de São Paulo
Autor: Cafardo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2008, Vida&, p. A18

Interior lidera nos 3 ciclos de ensino avaliados por indicador que reúne nota no Saresp e adequação aluno/série

Apenas uma escola estadual da capital aparece entre as 30 que têm o melhor Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp) no Estado. O predomínio do interior ocorre nos três ciclos de ensino - 1ª a 4ª séries, 5ª a 8ª séries e ensino médio. Os índices atuais das cerca de 5 mil escolas da rede estadual foram divulgados ontem pelo governo, assim como a meta a que elas devem chegar no fim do ano.

Esse indicador, que traça objetivos até 2030, foi elaborado com base na nota em uma avaliação da secretaria em 2007, o Saresp, e na quantidade de alunos na série correta para a série em cada escola.

Rankings elaborados pelo Estado mostram que a capital só aparece entre as dez melhores de 1ª a 4ª séries. A Escola Estadual Prof.ª Blanca Zwicker Simões, que fica no Jardim Anália Franco, bairro de classe média na zona leste, tem mais de mil alunos e não há registro de evasão. Ela foi a sétima colocada do ranking. Nas escolas de 5ª a 8ª séries não há uma da capital entre as 50 melhores. No ensino médio, a primeira que aparece está na 28ª posição.

Educadores afirmam que o melhor desempenho do interior está ligado a fatores sociais, que aproximam a escola da comunidade e do aluno. Mas, segundo o especialista em financiamento da educação da Universidade de São Paulo (USP), Juca Gil, há também razões financeiras. Ele lembra que, no interior, as prefeituras são responsáveis por oferecer merenda e transporte também para escolas estaduais. Isso não ocorre na capital. Municípios mais ricos muitas vezes ainda ajudam na reforma de escolas do Estado, apesar de terem rede municipal.

¿O salário do professor é o mesmo em qualquer cidade do Estado, mas, com R$ 1.500 no interior, ele pode ter uma casa melhor, morar no centro, ir ao cinema, porque tudo isso é mais barato¿, completa Gil. Além disso, professores e diretores tendem a permanecer mais tempo numa mesma escola nas cidades do interior. ¿Eles desenvolvem e se comprometem mais com o projeto pedagógico. Na capital, professores e diretores não param em escolas mais conflituosas e a legislação permite essas mudanças¿, diz o vice-presidente do Conselho Estadual da Educação, Arthur Fonseca Filho.

Segundo a secretária estadual da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, o governo está estudando modificações na lei para impedir mudanças após curtos períodos de trabalho numa escola. ¿As escolas do interior também costumam ser menores, com menos de mil alunos, o que facilita o trabalho¿, completa a secretária.

Entre as 5.183 escolas estaduais, 1.056 (20%) estão na capital. Entre as cidades que mais aparecem nas listas das dez melhores em cada ciclo estão Campinas, Dolcinópolis, Aparecida D¿Oeste, Americana.

São Carlos, no noroeste do Estado, tem a melhor escola de 1ª a 4ª séries, com Idesp 6,93 (o mais alto do Estado nos três níveis). O índice já é praticamente o que se espera para 2030 em todas as escolas. Mas a cidade tem também a pior entre 5ª e 8ª séries, com Idesp 0,26 (mais informações, pág. A19). Nas listas nas dez piores, há seis escolas da capital no primeiro ciclo do fundamental e duas no segundo.

Segundo a educadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Marcia Sigrist, o melhor desempenho de escolas públicas de cidades menores é algo registrado no mundo todo. ¿As relações humanas e sociais são diferentes da capital. Além disso, muitas vezes há apenas uma escola na cidade e alunos de todas as classes sociais estudam lá¿, completa. É o que ocorre na única escola da cidade de Pontes Gestal, a 551 quilômetros da capital, que é a melhor de 5ª a 8ª do Estado (mais informações, pág. A19).

O Idesp pode variar de 0 a 10 e foi feito pela primeira vez neste ano no Estado. As médias gerais foram de 1,41 para o ensino médio, 2,54 para 5ª a 8ª e 3,23 para 1ª a 4ª. Até 2030, espera-se chegar a 5, 6 e 7, respectivamente. O indicador paulista é semelhante ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), lançado pelo governo federal no ano passado. Os dois indicadores traçam metas para cada escola. ¿As escolas de São Paulo vão continuar a perseguir as metas do Ideb também¿, diz a secretária.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 16/05/2008 04:43