Título: PF investiga patrimônio de colaborador de Garotinho
Autor: Werneck, Felipe; Auler, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2008, Nacional, p. A8
Ministério Público aponta ¿flagrante incompatibilidade¿ entre rendimentos lícitos de Álvaro Lins, R$ 8 mil, e seus gastos fixos de R$ 25 mil mensais
Na denúncia contra o delegado Álvaro Lins, que chefiou a Polícia Civil do Rio de 2000 a 2006, quando foi eleito deputado estadual pelo PMDB, o Ministério Público Federal enumera carros importados e imóveis supostamente comprados pelo acusado por meio de laranjas. Lins foi denunciado sob a acusação de praticar os crimes de formação de quadrilha armada, facilitação de contrabando, corrupção passiva e ¿lavagem de ativos provenientes das atividades ilícitas desenvolvidas pela organização criminosa¿.
As investigações policiais sobre lavagem de dinheiro concentraram-se no ex-chefe de polícia, acusado de comandar o grupo, segundo o Ministério Público, com apoio do ex-governador e ex-secretário de Segurança Anthony Garotinho.
Lins foi preso em flagrante na manhã de quinta-feira pela Polícia Federal e liberado no fim da tarde de sexta-feira graças à aprovação, pelos colegas da Assembléia Legislativa, de projeto de resolução segundo o qual lavagem de dinheiro não é crime inafiançável.
O Ministério Público aponta a ¿flagrante incompatibilidade¿ entre os rendimentos lícitos do ex-chefe de Polícia Civil - ¿menos de R$ 8 mil¿ - e seu patrimônio e gastos ¿nababescos¿. A denúncia cita despesas fixas mensais em torno de R$ 25 mil, ou seja, mais que o triplo de seus rendimentos declarados.
Lins é pai de quatro filhos. Duas das três mães deles, a servidora da Assembléia Legislativa Luciana Gouveia dos Santos e a médica do Corpo de Bombeiros Sissy Toledo de Macedo Bullos Lins, também foram denunciadas sob a acusação de lavagem de capitais. Elas não possuíam, segundo o Ministério Público, rendimentos que permitissem a ¿extrapolação de tamanha ordem no orçamento familiar¿.
O ex-chefe de polícia adquiriu em 2005 dois imóveis na cidade de Barra Mansa (RJ) por valores declarados, respectivamente, de R$ 40.000,00 e R$ 25.000,00. Os imóveis, porém, segundo relatório de inteligência da PF, produzido durante a Operação Gladiador, em 2006, ¿aparentam ter valores bem maiores do que aqueles pelos quais foram adquiridos¿.
O Ministério Público cita ¿abundantes indícios de proveito financeiro das atividades criminosas¿ por parte do ex-chefe de polícia, que ¿se materializaram em atos concretos de lavagem de dinheiro, por meio da aquisição de bens, todos eles em nome de terceiros sem capacidade financeira para tanto - autênticos `laranjas¿ - que serviram e servem a ele e seus familiares¿.
Lins foi eleito em 2006 após campanha cujo gasto declarado foi de R$ 375,9 mil. O próprio Lins doou R$ 34.069,06 a si mesmo - quase a metade do patrimônio informado na ocasião à Justiça Eleitoral, de R$ 78.100,00. Segundo a denúncia, foram detectadas duas movimentações financeiras atípicas, uma de R$ 267 mil e outra de R$ 87 mil, indicando que, entre novembro de 2005 e novembro de 2006, houve ¿aumentos substanciais no volume de depósitos sem causa aparente, e movimentação incompatível com o patrimônio e ocupação profissional do investigado¿.
CARROS
Em 18 de maio de 2005, um Toyota Fielder blindado, ano 2005, no valor de R$ 113.800,00, foi adquirido por Lins, em dinheiro, por meio de depósito bancário, aponta o Ministério Público. Formalmente, o veículo foi comprado por Francis Bullos, sogro do acusado, também denunciado.
¿Verifica-se que Lins ocultou a propriedade de veículo de elevado valor, adquirido com o produto de crimes praticados contra a administração pública e por organização criminosa, tendo, com a venda do automóvel, convertido o ativo ilícito em ativo lícito¿, acusou o Ministério Público. No dia 2 de janeiro de 2006 - quando ainda mantinha a propriedade do Toyota -, um jipe Pajero TR4/MMC, também blindado, ano 2005, foi comprado por R$ 121 mil, ¿igualmente de forma escamoteada¿, segundo a denúncia, em favor da mulher, Sissy. De acordo com o MPF, o carro foi formalmente adquirido por Vanda de Oliveira Bullos, ex-madrasta de Sissy, também denunciada.
As investigações, segundo a PF, constataram que Lins ¿não somente ocultava a propriedade dos luxuosos veículos como também fazia com relação a diversos imóveis, sendo certo que aquele em que reside atualmente (na Rua 5 de Julho, em Copacabana, na zona sul) pode ser qualificado como um imóvel de luxo¿.
-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 01/06/2008 12:47