Título: BNDES tem R$ 300 bi para infra-estrutura
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2008, Economia, p. B14
Ciclo de investimentos pesados avança de maneira expressiva pela primeira vez desde o Plano Nacional de Desenvolvimento, dos anos 70
A carteira de investimentos em grandes obras de infra-estrutura e dos setores supridores de insumos básicos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) soma R$ 300 bilhões. O ciclo de investimentos avança de forma expressiva, pela primeira vez desde o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento, em meados dos anos 70. Agora, a iniciativa privada entra mais fortemente nos projetos e as preocupações em relação aos impactos ambientais e até mesmos sociais crescem em torno dos empreendimentos.
¿O ciclo de investimentos assim em infra-estrutura e indústria de base talvez só tenha acontecido na época do 2º PND¿, conta o diretor da área no BNDES, Wagner Bittencourt. Engenheiro, ele entrou no banco em 1975, ano de lançamento do plano de desenvolvimento do governo Ernesto Geisel. Bittencourt conta que o ritmo de trabalho interno e dos investimentos lembra o período de três décadas atrás.
Na prática, o 2º PND durou até 1979, buscava autonomia do País em insumos básicos e também focava a questão energética, com os programas nuclear, do álcool, pesquisa em petróleo e investimentos em hidrelétricas. Os planos de desenvolvimento seguintes pouco evoluíram. Em quase toda a década de 1980 e durante boa parte dos anos 90 o crescimento do País foi baixo, em média entre 2% e 2,5% ao ano. ¿Os investimentos nesse período eram marginais¿, argumenta o diretor do BNDES. Por causa disso, surgiram problemas de gargalo para o crescimento do País, em áreas como energia e de transportes.
O quadro parece mudar. A carteira atual do banco, com projetos desde a fase de consulta até contratados, foi levantada a pedido do Estado e indica investimentos de R$ 178 bilhões na infra-estrutura, a maior parte em grandes obras. Uma das principais operações aprovadas pelo banco é para a instalação da usina hidrelétrica Estreito, no trecho médio do Rio Tocantins, um investimento de R$ 3,607 bilhões. No Sul, a usina hidrelétrica de Chapecó, no Rio Uruguai, demanda investimentos de R$ 2,207 bilhões.
Já as obras ligadas à área social, principalmente transportes, abastecimento de água, coleta e tratamento do esgoto, incluem projetos em carteira de R$ 8,2 bilhões. Alguns exemplos são a ampliação do metrô de São Paulo, já contratada, de R$ 2,1 bilhões, expansão dos sistemas de abastecimento de água e esgotos da Cia. de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), de R$ 650 milhões, e construção de ponte sobre o Rio Negro, no Amazonas, um empreendimento de pouco mais de meio bilhão de reais.
De maneira simplificada, o novo fluxo de investimentos em infra-estrutura no País aumenta a demanda por produtos da indústria de base. Junto com o crescimento do País - de 5,4% em 2007 e estimado pelo mercado em 4,7% para 2008 -, a pressão por produtos básicos empurra o setor para investimentos de R$ 113 bilhões, como listado na carteira do banco, principalmente em siderurgia, cimento, petroquímica, papel e celulose. ¿O aço, por exemplo, é insumo para outros setores produtivos¿, diz Bittencourt.
O ex-secretário de Política Econômica José Roberto Mendonça de Barros, contudo, ressalta que, apesar do avanço dos empreendimentos, a taxa de investimento sobre o Produto Interno Bruto (PIB) ainda é inferior à dos anos 70. Na época, a parcela se aproximava de 23% do PIB, taxa que atualmente é de cerca de 18%. Segundo o economista, os investimentos avançam, mas os projetos previstos no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) estão ¿muito no começo¿.
De forma geral, o aumento das obras de infra-estrutura abre espaço para a expansão da atividade das grandes empreiteiras, que desde a década passada vinham buscando compensar a desaceleração das obras de infra-estrutura com a exporta+ção de serviços de engenharia e a entrada em outros setores da economia, como concessões de rodovias e de telecomunicação, a exemplo do que fez a Andrade Gutierrez, controladora do Grupo Oi.