Título: PF vê elo entre Álvaro Lins e milícias
Autor: Auler, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2008, Nacional, p. A7

Na campanha para deputado, aliados do ex-chefe da Polícia Civil buscaram apoio de grupos que atuam nas favelas do Rio

Para se eleger deputado estadual pelo PMDB em 2006 , o delegado Álvaro Lins, já então ex-chefe de Polícia Civil, buscou apoio de algumas das milícias que dominam favelas do Rio de Janeiro. Para isso, contou com a intermediação de policiais civis do seu grupo e mesmo de delegados no exercício do cargo. As informações constam do relatório no qual Lins, o ex-governador Anthony Garotinho e outras 14 pessoas foram denunciadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público por formação de quadrilha armada, facilitação de contrabando, corrupção e lavagem de dinheiro.

Em um dos diálogos gravados pela Polícia Federal e transcrito na denúncia dos procuradores regionais da República, um delegado é flagrado ao organizar um ato de campanha de Lins em cinco favelas de sua jurisdição. O delegado, Marcos Cipriano, é aconselhado pelo inspetor de polícia Fábio Menezes de Leão, o Fabinho, a procurar o cabo da Polícia Militar Jorsan Machado de Oliveira, chefe de milícia em diversas comunidades carentes de Jacarepaguá, na zona oeste. As milícias são organizações paramilitares que supostamente defendem as favelas da ação de traficantes.

Cipriano, segundo gravações da PF, destacava a importância da visita: ¿Para a gente não deixar de aproveitar lá, um complexo de seis favelinhas, são 20 mil votos, entendeu?¿ Fabinho então quis saber se haviam negociado com a milícia local e recomendou que procurassem Jorsan: ¿Os caras lá são o Jorsan e o Serginho. (...) Eles estão com a gente na campanha, são eles que puxam o bonde lá.¿

Jorsan também tinha ligações com a máfia dos caça-níqueis, chefiada pelo sobrinho do bicheiro Castor de Andrade, Rogério Costa de Andrade. Segundo as investigações da PF, Andrade também pagava propina para o grupo de Álvaro Lins.

Em outubro, depois que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) proclamou a vitória de Lins, foi o próprio quem telefonou para o cabo da PM agradecendo o apoio. ¿Continuamos juntos, vamos em frente que tem muito trabalho ainda¿, disse Lins, segundo a denúncia. ¿Pode ficar tranqüilo, estamos aí e vamos estar juntos de novo¿, ouviu de Jorsan.

No início de 2007, Jorsan foi assassinado, segundo a denúncia contra Lins, logo após procurar a Polícia Federal com o objetivo de ¿delatar o esquema dos caça-níqueis¿.

A relação de Lins com a contravenção do Rio era antiga. Em 1994, quando era tenente da Polícia Militar, ele teve o nome encontrado na lista de policiais civis e militares que recebiam propinas de bicheiros. Em 1997, o delegado Hélio Luz, na época chefe de Polícia Civil, quis impedir a nomeação de Lins quando ele passou no concurso para delegados. Mas um mandado judicial garantiu sua posse.

Em 2000 ele ocupou a direção da Polinter, onde estavam lotados os policiais que passaram a ser considerados seus homens de confiança, conhecidos como a turma dos ¿inhos¿: Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho; Helio Machado da Conceição, o Helinho; e Fábio Menezes de Leão, o Fabinho. No ano seguinte, mesmo tendo apenas cerca de dois anos de carreira, Lins foi nomeado pelo então governador Antony Garotinho o chefe da Polícia Civil.

O advogado de Álvaro Lins, Ubiratan Guedes, estava com o celular desligado e não retornou os recados deixados pelo Estado até o fechamento desta edição.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 02/06/2008 03:17