Título: Hoje tem Copom
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2008, Economia, p. B2

Para evitar mordida maior dos juros pelo Banco Central, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou na semana passada a formação de um superávit primário extra, de 0,5% do PIB (R$ 13 bilhões neste ano).

É um dinheiro que não vai para as despesas correntes da União e, portanto, não se transformará em mais consumo. A idéia é ajudar o Banco Central a combater a inflação de demanda, aquela que acontece quando o consumo aumenta muito e a oferta não dá conta.

Esse passo da Fazenda vai ser obviamente levado em consideração. Mas o Copom, que hoje termina sua reunião de dois dias para definir os juros, dificilmente poderá mudar sua dosagem apenas por conta disso.

Não há nenhuma garantia de que esse adicional de superávit primário será observado. Por enquanto, não passa de uma declaração de intenções. Além disso, está amarrado ao patrimônio do Fundo Soberano do Brasil, cuja criação depende do Congresso que, antes das eleições de outubro, provavelmente não vai examinar o projeto de lei que lhe será encaminhado.

Até lá, aparentemente, os recursos desse superávit extra, que mês a mês forem obtidos, serão aplicados em títulos do Tesouro. Portanto, não reduzirão a dívida pública.

Em defesa de um avanço comedido dos juros ainda há a argumentação do ministro Mantega. Para ele, a maior parte da escalada interna de preços se deve à alta dos alimentos, movimento determinado lá fora, a partir das cotações das bolsas internacionais de mercadorias. A conseqüência prática da argumentação é a de que não há o que fazer para impedir a escalada e que o aumento dos juros não conseguiria reverter o movimento das cotações internacionais.

No entanto, a ação do Banco Central não tem por objetivo conseguir a virada dos preços internacionais dos alimentos. Tenta apenas impedir que a inflação contamine os outros preços, especialmente os serviços.

Em abril, por ocasião da última reunião do Copom, os dirigentes do Banco Central argumentavam que era preciso agir no início do período de avanço dos preços para que todo o ajuste pudesse ser mais suave. A percepção era então de que o desvio inflacionário era pequeno e que bastava leve aperto no torniquete, de meio ponto porcentual, para corrigir o desvio. Mas, de lá para cá, houve uma forte deterioração das expectativas de inflação (veja o gráfico).

Segunda-feira, a Pesquisa Focus, que reúne as projeções de cerca de cem instituições financeiras, empresas e consultorias, mostrou que o mercado já está trabalhando com uma inflação acumulada neste ano de 5,48% (a meta é 4,50%). E as cinco instituições que mais têm acertado os prognósticos, as Top 5, foram além e cravaram 5,60%. O mais preocupante não é a deterioração das expectativas, mas a velocidade com que se vão deteriorando.

O Banco Central já reviu seu diagnóstico. Entende que a disparada dos preços foi mais forte do que aquela com que contava em abril e que não dá para tratar a fera com mão de donzela.

A conferir no início da noite de hoje, quando sai a decisão do Copom.

Confira

O senador responde - O senador Artur Virgílio (PSDB-AM) criticou a observação da coluna que pergunta se o desenvolvimento sustentável da Amazônia passa pela criação artificial da indústria, como a Zona Franca de Manaus (ZFM):

¿Se fosse artificial como a ZFM, mereceria aplauso. Manaus conta, hoje, com cerca de 500 empresas, com faturamento anual de R$ 25 bilhões.¿

E conclui: ¿A ZFM oferece emprego a 100 mil pessoas que poderiam estar derrubando a mata. A `industrialização artificial¿ deu o mais espetacular resultado.¿

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