Título: Senado ensaia resistência igual à que barrou CPMF
Autor: Samarco, Christiane; Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2008, Nacional, p. A6

Contrariedade com proposta começa no presidente da Casa, passa pela bancada da oposição e atinge até parlamentares da base governista

Se passar na Câmara, em votação agora programada para a próxima semana, a Contribuição Social para a Saúde (CSS)vai encontrar no Senado resistência parecida com a que provocou a derrubada da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) no fim do ano passado - o chamado imposto do cheque, que inspira a proposta que a base governista pretende aprovar.

A resistência à CSS começa no presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), passa pela bancada da oposição e chega até a parlamentares da própria base governista - apesar dos apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, alegando que sem a recriação do imposto do cheque o governo não terá dinheiro para bancar o aumento dos gastos previsto na chamada Emenda 29.

Ontem Garibaldi declarou-se contrário à CSS publicamente. ¿O governo tem outras alternativas. Minha posição é clara e ninguém venha me colocar num canto da parede por causa disso¿, disse Garibaldi no início da tarde, em discurso no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, durante o lançamento da Frente Parlamentar do Comércio Varejista. O presidente do Senado insistiu em que não vê ¿nenhum dilema¿ entre ficar a favor da saúde e contra a CSS.

¿É óbvio que o governo tem alternativas para o financiamento da saúde¿, sustentou Garibaldi, sob aplausos entusiasmados dos lojistas.

O presidente da frente, deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC), que tivera a iniciativa de convidar o senador para a cerimônia, não teve dúvidas. Mais que depressa, aclamou Garibaldi presidente de honra da Frente Parlamentar do Comércio Varejista.

PRIORIDADE

Uma das críticas mais contundentes feitas ontem no Senado contra a proposta que recria o imposto do cheque partiu de um parlamentar da própria da base governista: Flávio Arns (PT-PR). O senador petista avisou que, numa eventual votação na Casa, seria contrário à criação da CSS.

Ele se justificou dizendo que é contra novos impostos e também por acreditar que, se o governo tem a saúde como prioridade, cabe a ele colocar mais recursos na área. ¿O senhor merece mais dinheiro¿, afirmou o senador para o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, para concluir: ¿Mas então o Executivo que coloque a saúde como prioridade, o que hoje não acontece.¿

A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) também já avisou que votaria contra a CSS. Ela rebateu as afirmações do ministro da Saúde, que garantiu não ter sentido no bolso o impacto da cobrança da extinta CPMF. ¿Nem eu nem minha família¿, ressaltou o ministro. ¿Claro¿, rebateu a senadora. ¿Mas pergunte se a sua funcionária não sentiu. Quanto menor o salário, maior era o impacto.¿

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 05/06/2008 04:22