Título: Militar que assumiu ser gay é preso
Autor: Zanandrea, Andressa; Haddad,Camilla
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2008, Vida&, p. A23

Sargento foi detido após participar de programa de TV, sob acusação de ter desertado; ele alega problema de saúde

O sargento do Exército Laci Marinho de Araújo, de 36 anos, foi preso ontem acusado de deserção, após relatar seu relacionamento homossexual com o sargento Fernando Alcântara de Figueiredo, de 32 anos, no programa Superpop, da RedeTV!. A experiência dos dois nas Forças Armadas também foi relatada em uma reportagem de capa da revista Época.

Araújo foi detido por policiais do Pelotão de Investigações Criminais (PIC) da Polícia do Exército, nos estúdios da RedeTV!, em Barueri (SP). Antes de se entregar, o sargento exigiu a presença de entidades ligadas à proteção dos direitos humanos. As negociações começaram à 1 hora da madrugada e duraram cerca de 3 horas.

¿Ficou combinado que ele não seria enviado ao presídio militar, mas ao Hospital Geral do Exército, no Cambuci (zona leste de São Paulo)¿, afirma o secretário geral do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Ariel de Castro Alves. ¿O Exército também permitiu que seu companheiro o acompanhasse na internação.¿ O sargento Araújo alega ter problemas neurológicos, com sintomas de esclerose múltipla. Em 2007, afirma ter obtido seis meses de licença para tratamento.

Segundo o Centro de Comunicação do Exército, a prisão de Araújo ¿não guarda qualquer relação com a situação declarada pelos próprios militares, foco das reportagens¿, ou seja, com sua orientação sexual.

Segundo as Forças Armadas, ele abandonou suas funções no dia 21 de maio. A versão é contestada pelo companheiro de Araújo. ¿Forjaram um laudo há 15 dias de que ele estava apto a trabalhar. Mas não tem um neurologista entre os médicos que assinaram o laudo¿, afirma Figueiredo. Depois desse parecer, Araújo deveria ter se apresentado. Caso contrário, seria considerado desertor. Ele diz, no entanto, que estava doente, de cama. Para Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, há ¿indícios de homofobia¿ na ação. ¿O sargento tinha endereço fixo em Brasília. Por que prendê-lo durante o programa?¿, questiona.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirma que, antes de se falar em discriminação aos gays, é preciso saber se eles violaram as regras do Exército.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 05/06/2008 04:35