Título: Ciclo de alta do juro vai derrubar PIB
Autor: Dantas, Fernando; Ruhman, Carolina
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2008, Economia, p. B13

Para economistas, BC vai elevar Selic em pelo menos 0,5 ponto em todas as 4 reuniões que restam até dezembro

O ciclo de alta das taxas de juros que o Banco Central (BC) está iniciando não será nada suave, e vai derrubar a taxa de crescimento em 2009 a um nível significativamente abaixo dos 5% estipulados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como uma espécie de meta informal do seu segundo mandato. Essa é a visão de vários economistas que acompanham o dia-a-dia do trabalho do BC, e acham que a instituição fará tudo o que estiver ao seu alcance para evitar que, como ocorreu em outros países, a inflação no Brasil desgarre-se para muito além do centro da meta de 4,5%.

As previsões da maioria dos economistas são de que o BC aumentará a Selic em todas as quatro reuniões restantes do Comitê de Política Monetária (Copom) até o fim do ano, e na maioria delas, em não menos de 0,5 ponto porcentual. ¿O Brasil está crescendo na margem entre 6% e 7%, bem acima do seu potencial, e é preciso baixar a temperatura porque não dá para crescer nesse ritmo¿, diz Gino Olivares, economista-chefe do Opportunity Asset Management. Hoje os analistas consideram que o potencial de crescimento não-inflacionário no Brasil está em torno de 4,5%.

Olivares prevê que a Selic suba até 14,25% e o crescimento caia de cerca de 5% neste ano para o intervalo entre 3% e 4% em 2009. Para ele, a inflação pode chegar perto de 6% em 2008.

Para Sérgio Vale, da MB Associados, a Selic deve subir até 14% este ano, e o crescimento deve cair de 4,7% em 2008 para 4,2% em 2009. Vale, que prevê um pouso suave da economia brasileira, está com uma posição relativamente otimista. Alexandre Pavan Póvoa, diretor do Modal Asset Management, prevê uma Selic de 14,5% no fim do ano.Para o crescimento do PIB, a projeção do Modal Asset é de um recuo de 4,8% em 2008 para 3,7% em 2009.

Há um consenso entre os analistas de que o BC não está mais mirando a inflação deste ano, que certamente ficará acima do centro da meta, e sobre a qual não há muito o que fazer. Segundo a média da última rodada de coleta de projeções do mercado pelo BC, o IPCA, o índice da meta de inflação, deve ficar em 5,48% neste ano. O jogo, portanto, se transferiu para 2009, e é em relação ao ano que vem que o BC luta para conter as expectativas inflacionárias.

Olivares nota que muitos analistas achavam há alguns meses que o ciclo de subida dos juros seria menor do que o iniciado em 2004, no qual ela foi elevada em 3,75 pontos porcentuais, de 16% para 19,75%. A razão alegada, ele recorda, é de que a economia do País está muito mais saudável agora. Ele concorda plenamente com isso, mas observa que, especificamente no front inflacionário, há vários agravantes hoje que não ocorriam em 2004.

O primeiro é que naquele ano o BC teve a colaboração de um câmbio que se valorizava, em um País com superávit em conta corrente. Agora, com as importações já tendo passado por um crescimento explosivo, e o déficit em conta corrente crescendo a um ritmo bem maior do que o previsto pelo mercado, não dá mais para contar com a valorização cambial para segurar os preços.

Em 2004, tampouco havia uma onda inflacionária global como agora, nem a disparada do preço dos alimentos. Naquele momento, o País estava começando a crescer, depois de uma longa estagnação, ao contrário de 2008, em que já há quatro anos de crescimento médio razoável para trás. Isso explica, por exemplo, porque o mercado de trabalho está muito mais aquecido agora, o que é outro fator de risco inflacionário. ¿Diminuir a velocidade do transatlântico pode ser um pouco mais trabalhoso do que em 2004¿, diz Olivares.

Alguns analistas, porém, como Tomás Málaga, economista-chefe do Banco Itaú, já vêem sinais de moderação na expansão do crédito, já como efeito do aumento da Selic iniciado em abril, quando a taxa básica subiu de 11,25% para 11,75%.

Ainda pelo lado positivo, Vale, da MB, vê chances de que a forte alta dos alimentos, iniciada em 2007, arrefeça em 2009. Por outro lado, ele alerta, os preços administrados podem pesar mais no ano que vem, já que têm ligação com os índices de inflação do tipo IGP, que subiram muito recentemente.

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