Título: Aumento do juro não rompe ciclo de investimento, diz BNDES
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2008, Economia, p. B9
Mas Coutinho alerta que pressão por financiamentos do banco deve aumentar
O aumento da taxa básica de juros pelo Banco Central não deve desarmar o ciclo atual de investimentos produtivos. A avaliação é do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.
¿Ao contrário do que ocorreu de 2004 para 2005, desta vez, o ciclo de investimento produtivo vai se manter firme¿, afirmou Coutinho, que normalmente é associado aos ¿desenvolvimentistas¿, grupo de economistas que faz restrições ao uso dos juros para controlar a demanda e segurar a inflação.
Ele alertou, no entanto, que a alta dos juros deve aumentar a pressão por financiamentos do BNDES. Segundo ele, aumento da Selic adia a aproximação das taxas de mercado e da TJLP, praticada pelo BNDES e, por isso, ¿sobrecarrega o banco¿.
Coutinho defendeu um reforço de recursos para a instituição. O banco tem previsão de R$ 210 bilhões para empréstimos aos setores industriais e de serviços nos próximos três anos. Mas o desembolso pode chegar a R$ 300 bilhões se for agregada a necessidade de financiamento para a infra-estrutura. Por isso, o banco precisará obter mais R$ 90 bilhões.
Coutinho informou que negocia novas fontes de recursos com o Ministério da Fazenda, mas não antecipou medidas. Disse também que o BNDES vai continuar captando recursos no mercado internacional, por meio de emissão de bônus, e poderá vender algumas das suas participações acionárias em empresas.
Segundo ele, até que as taxas de mercado se aproximem da TJLP, o BNDES não poderá deixar de atender à demanda. ¿Quando as taxas de mercado se aproximarem da TJLP, o mercado responderá por grande parte do papel assumido hoje pelo BNDES. Enquanto isso não acontece, se nós não cumprirmos o papel de oxigenar o investimento, ele pode ficar prejudicado e o ciclo econômico pode ficar debilitado.¿
A opinião de Coutinho sobre juros não é partilhada pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann. Ele afirmou que a elevação dos juros pelo BC pode interromper o ciclo de investimentos em curso no Brasil. ¿O juro pode ter um efeito de desacelerar a inflação, mas pode ter efeito maior, negativo, sobre a produção, os investimentos e a sociedade¿, disse Pochmann, após participar de audiência pública no Senado Federal.
Para Coutinho, a decisão do BC tem como objetivo manter as expectativas em relação ao controle da inflação. ¿Manter a expectativa de inflação sob controle é fundamental. Às vezes, tem de sacrificar no curto prazo para garantir o longo prazo¿, disse. ¿A confiança no longo prazo se garante com investimentos. Eu vejo essas coisas muito integradas.¿
Coutinho afirmou que até o momento as decisões de investimento e a demanda por financiamentos do BNDES têm se mantido muito firme. ¿Isso é resultado da confiança empresarial no País¿, reforçou.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que o Banco Central tem feito um trabalho exemplar no combate à inflação nos últimos cinco anos e meio de governo Lula. ¿A inflação é o inimigo principal na luta que travamos na economia. Então, o Copom está certo (em elevar os juros)¿, disse Bernardo. COLABOROU FABIO GRANER
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