Título: Definição nos EUA estimula acordo em Doha
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2008, Economia, p. B11

Com a proximidade da eleição presidencial americana, países da OMC tentam fechar negociações até julho

A indicação de Barack Obama pelo Partido Democrata e a iminência do início da campanha eleitoral nos Estados Unidos detonaram ontem, em Paris, um esforço concentrado para tentar chegar a um acordo na Rodada Doha, estagnada pelas divergências sobre a abertura dos mercados agrícolas e industriais.

O novo prazo para que representantes dos 152 países na Organização Mundial do Comércio (OMC) encontrem o consenso seria junho ou julho, segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Na visão do chanceler, porém, o maior empecilho para um acordo é a tentativa de europeus e americanos de ¿vender um carro usado por preço muito alto¿.

A urgência em encerrar as negociações foi ressaltada pelas autoridades presentes, ontem, na reunião de ministros da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Antes de Amorim, Peter Mandelson, comissário de Comércio Europeu, e Susan Schwab, representante do Comércio dos EUA, sintonizaram discursos em favor da pressa nas próximas reuniões. ¿O calendário político americano está contra nós¿, disse ele. ¿O acordo deve ser alcançado.¿

Schwab ressaltou que os Estados Unidos estão dispostos a acelerar as negociações. ¿Sentimos a urgência da questão e estamos dispostos a agir para que a reunião dos negociadores permita chegar a um acordo rápido¿, disse, referindo-se à rodada de conversações marcada para segunda-feira, em Genebra. Afinado com o discurso, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, anunciou que convocará altos dirigentes nacionais para negociações nas próximas duas semanas.

Apesar do ânimo renovado dos negociadores, os impasses persistem. Enquanto países emergentes, liderados pelo Brasil, pregam a redução das subvenções agrícolas dos países desenvolvidos, nações ricas defendem a maior abertura dos mercados emergentes para bens industriais e de serviços.

Amorim se valeu de figuras de linguagem para criticar a proposta americana e européia. ¿A primeira coisa que pedimos é que reduzam significativamente os subsídios. A segunda é que não cobrem muito por um carro usado¿, ironizou.

O endereço das reclamações é o conteúdo da atual proposta de redução dos subsídios, que ele considera ¿menos ambiciosa¿ em relação à apresentada pelos mesmos países há dois anos. ¿É na agricultura que estão as maiores distorções ao livre comércio mundial¿, frisou o chanceler. Apesar da insatisfação, Amorim se diz otimista com as possibilidades de acordo nos próximos 55 dias.

O certo é que as discussões em Paris e Genebra estão contaminadas pelo teor dos debates na sede da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em Roma. Na conferência, que teve a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo brasileiro insistiu em dissociar o etanol produzido da cana-de-açúcar dos demais biocombustíveis - entre os quais o etanol de milho, produzido pelos EUA -, apontados como um dos responsáveis pela inflação internacional dos preços das commodities agrícolas.

O objetivo do Brasil é incluir na rodada a discussão sobre o fim ou a redução dos subsídios do governo americano aos produtores de etanol, hoje de US$ 0,54 por galão importado. ¿Para nós, o etanol é um bom exemplo¿, admitiu, referindo-se à abertura do mercado dos EUA.

As declarações do chanceler foram feitas à tarde, pouco antes de várias reuniões com autoridades de comércio. No fim da tarde, na Embaixada da Austrália, Amorim e representantes de 30 outros países deram continuidade às conversações. À noite, o brasileiro se reuniria ainda com Mandelson e jantaria com Susan Schwab.

Hoje, ele estará em Liubliana, na Eslovênia, para participar da segunda reunião do Diálogo Político de Alto Nível Brasil-União Européia, onde os diplomatas discutirão detalhes do Plano Conjunto de Ação da Parceria Estratégica, firmado entre o governo brasileiro e o bloco econômico em julho do ano passado, em Bruxelas.

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