Título: Ministros discutem inflação com Lula
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2008, Economia, p. B7

Mantega dirá que é preciso dar tempo para medidas surtirem efeito

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deve reforçar hoje na reunião ministerial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a avaliação de que o surto inflacionário no Brasil decorre essencialmente de fatores externos, como a alta global dos preços dos alimentos e da disparada das cotações do petróleo, informaram fontes do governo ao Estado.

No encontro com todos os ministros do governo Lula, que contará ainda com a participação do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, Mantega pretende mostrar que o governo já fez o que podia para evitar que os choques externos, que foram mais fortes do que esperava a equipe econômica, não se espalhem por outros setores, levando ao descontrole da inflação e a elevações mais drásticas de juros.

Essas medidas seriam a alta no IOF para o crédito, o aumento do superávit primário e a própria alta no juro básico, além de desonerações setoriais. Na visão da Fazenda, tais medidas levam um tempo para surtir efeito, mas já há sinais de que a economia estaria iniciando sua acomodação, de modo a evitar a propagação dos choques.

¿Já tomamos medidas poderosas e agora temos de esperar para ver seus resultados. Ainda devemos ter alguns números ruins de inflação, mas a hora é de ter calma para não tomar medidas de afogadilho que levem a uma perda de dinamismo econômico¿, informou uma fonte.

Guido Mantega tem, em praticamente todas as suas apresentações públicas, procurado deixar claro que não vê a alta da inflação originada da atividade econômica aquecida. O diagnóstico diverge do manifestado pelo Banco Central que demonstra preocupação com o ¿descompasso entre oferta e demanda¿ na economia.

A grande preocupação da Fazenda é que o ciclo de alta nos juros iniciado em abril pelo BC não ocorra em um nível que comprometa o ritmo dos investimentos e da atividade econômica interna. Mantega reconhece que a economia não pode crescer muito mais do que 5% sem ter problemas, mas também não quer ver se repetir o cenário de 2004, quando a ação preventiva do Banco Central levou a uma queda forte nos investimentos e no crescimento.

Os ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes, e do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, devem aprofundar a análise sobre o comportamento dos preços dos alimentos. O governo entende que pouco pode fazer no curto prazo sobre isso, já que os estoques federais são reduzidos e o espaço para desonerações, como as feitas para o trigo e o pão francês, menor ainda. A aposta é mais de longo prazo, por meio de estímulos à ampliação da oferta de produtos.

REFORMA

A reunião de hoje será a última antes do fechamento do Palácio do Planalto para reforma. A partir do segundo semestre, Lula deverá despachar em outro prédio de Brasília. A reunião ministerial de hoje, marcada para começar às 9h30, deve se estender pela tarde.

É a 18ª reunião desde a primeira posse do presidente em cinco anos e meio de governo, e a 4ª do segundo mandato. O último encontro de Lula com seus 37 ministros ocorreu no dia 23 de janeiro deste ano. Na época, ele cobrou dos auxiliares maior diálogo com os partidos aliados. Os líderes do governo no Congresso reclamam que os ministros não atendem a pleitos da base.

Hoje, será a estréia em reunião ministerial de Carlos Minc (Meio Ambiente) e do deputado petista José Pimentel (CE), que assumirá, na quarta-feira, a pasta da Previdência no lugar de Luiz Marinho, que concorrerá à prefeitura de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Também será a estréia de Luiz Barretto, interino do Turismo desde a semana passada. Ele substitui Marta Suplicy que disputará as eleições municipais na capital paulista. Tanto Marta quanto Marinho pediram a presença de Lula nos palanques. O presidente poderá abrir uma exceção. Ele deverá ajudar Marinho em São Bernardo do Campo, onde tem apartamento.

Links Patrocinados