Título: Yeda demite mais um e cria gabinete de transição para mudar secretários
Autor: Ogliari, Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2008, Nacional, p. A4
Governadora dá a entender que partidos terão maior participação em projetos, em troca de maior fidelidade
Acuada pela maior crise política da sua gestão, a governadora Yeda Crusius (PSDB) vai encarregar um gabinete de transição de reformular a administração pública do Rio Grande do Sul. A medida foi anunciada ontem, depois de uma reunião do Conselho Político Ampliado, formado por presidentes, secretários e líderes de partidos aliados, que ofereceram apoio, mas pediram um novo relacionamento político com o Executivo estadual. Cada sigla terá uma cadeira no gabinete. O PP já indicou o ex-governador Jair Soares. O PMDB entregou a tarefa ao ex-deputado estadual Rospide Neto. O PSDB, o PTB e o PPS vão apresentar os nomes hoje.
A governadora ainda exonerou o diretor de obras do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), José Luiz da Rocha Paiva, ligado ao PP, sem indicar se o afastamento está ligado ou não à série de demissões que fez em meio à crise. No sábado, Yeda aceitou os pedidos de exoneração do ex-chefe da Casa Civil Cezar Busatto, do ex-secretário-geral de governo Delson Martini e do chefe do escritório do Estado em Brasília, Marcelo Cavalcante, e também demitiu o comandante da Brigada Militar, Nilson Nobre Bueno.
O gabinete de transição vai discutir as novas relações políticas do governo. Yeda deu a entender que os partidos terão maior participação na elaboração dos projetos públicos, como queriam, e em troca terão de oferecer mais fidelidade na Assembléia Legislativa.
¿No velho jeito persistia alguma desconfiança entre um e outro partido¿, admitiu a governadora. ¿Eu quero que isso desapareça no nosso governo.¿
Os participantes também participarão da escolha do novo secretário-geral e do titular da Casa Civil, mas é possível que a tarefa seja ainda mais ampla. Yeda não confirmou, mas interlocutores próximos indicaram que está em discussão a demissão coletiva e a reconstrução de todo o secretariado. A idéia é que o gabinete também possa gerar boas notícias, substituindo a pauta da crise, mantida pela oposição.
DENÚNCIAS
O governo gaúcho já estava sob fogo cerrado da oposição desde fevereiro, quando uma comissão parlamentar de inquérito foi instaurada na Assembléia Legislativa para investigar ramificações políticas de uma fraude de R$ 44 milhões no Departamento Estadual de Trânsito (Detran), descoberta em novembro do ano passado pela Polícia Federal.
O Detran dispensava licitação para contratar fundações ligadas à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que, por sua vez, subcontratavam empresas para a elaboração de provas de habilitação de motoristas. Os serviços eram superfaturados e parte do lucro ilegal era distribuído entre os participantes da rede, inclusive diretores da autarquia.
O inquérito virou denúncia do Ministério Público Federal e um processo, aberto pela Justiça contra 40 envolvidos, entre os quais alguns nomes ligados ao PP, ao PMDB e ao PSDB. A situação se agravou na quarta-feira passada, quando uma escuta feita pela Polícia Federal foi tornada pública e mostrou dois réus do caso Detran discutindo como consultar Martini para resolver um impasse entre as empresas.
Na sexta-feira, os deputados do PT divulgaram uma nova conversa, desta vez gravada pelo vice-governador Paulo Afonso Feijó (DEM), na qual Busatto dava a entender que os partidos e os governadores gaúchos buscavam financiamentos em órgãos públicos como Detran, Daer, Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) e Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).
Na estratégia para reverter a situação, Yeda também foi ao Ministério Público Estadual pedir uma completa investigação dos órgãos públicos citados como possíveis fontes de financiamento de partidos. Foi informada pelo procurador-geral de Justiça, Mauro Renner, de que uma força-tarefa será convocada nesta semana para acelerar as investigações, que já estão em curso.
CRONOLOGIA
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