Título: Déficit externo explode e afeta o PIB
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2008, Economia, p. B6

Indicador saltou de R$ 915 milhões no 1º trimestre do ano passado para R$ 21 bilhões no 1º trimestre deste ano

A necessidade de financiamento da economia brasileira, um indicador associado ao déficit externo, explodiu no primeiro trimestre de 2008. O indicador saltou de R$ 915 milhões no primeiro trimestre de 2007 para R$ 21 bilhões nos três primeiros meses de 2008 (só se pode comparar os mesmos trimestres de diferentes anos, nesse caso).

O movimento acompanhou o recuo das exportações brasileiras de bens e serviços no primeiro trimestre, de 5,7% na comparação dessazonalizada com igual período de 2007, e de 2,1% ante o primeiro trimestre do ano passado.

¿A contribuição do setor externo para o PIB ficou bastante negativa no primeiro trimestre¿, comentou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE. As importações de bens e serviços cresceram 18,9%, na comparação com igual período de 2007.

As importações entram com sinal negativo no PIB, na ótica da demanda, já que representam consumo que não gera produto e renda no País. As exportações, ao contrário, entram com sinal positivo, já que significam produção e renda para atender à demanda externa.

A necessidade de financiamento é um indicador em reais semelhante ao déficit em conta corrente calculado em dólares pelo Banco Central, com pequenas diferenças que não chegam a ser relevantes para modificar os resultados.

A necessidade de financiamento do primeiro trimestre de 2008 é a maior nesse período do ano desde pelo menos 2000, sendo 44% superior aos R$ 14,6 bilhões de 2001, um ano de crise externa, que registrou o segundo pior resultado da década.

Os números do IBGE mostram que o aumento do déficit na balança de produtos e serviços e das remessas de lucros e dividendos para o exterior explicam o forte salto na necessidade de financiamento no primeiro trimestre. Em relação ao primeiro trimestre de 2007, o déficit líquido das rendas de propriedade enviadas ou recebidas do resto do mundo - lucros e dividendos - aumentou R$ 4,5 bilhões, de R$ 13,9 bilhões para R$ 18,4 bilhões.

A maior diferença, porém, ficou por conta do saldo externo de bens e serviços, que saiu de um superávit de R$ 10,2 bilhões no primeiro trimestre de 2007 para um déficit de 4,8 bilhões em igual período de 2008, com uma piora, portanto, de R$ 15 bilhões.

O IBGE inclui estimativas de contrabando nesse cálculo, o que não ocorre no caso dos números divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento.

Os indicadores externos extraídos do PIB são mais um sinal de que, apesar de um leve arrefecimento no primeiro trimestre, a demanda doméstica brasileira continua muito aquecida e crescendo acima do produto, que é justamente o que produz pressões inflacionárias e sobre as contas externas.

Segundo Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, o crescimento da demanda interna recuou de 8,5% no último trimestre de 2007 para 7,9% no primeiro de 2008 , mas permanece muito superior à expansão do PIB.

Isso parece reforçar temores de que o desempenho dos investimentos, que cresceram 14,9% em quatro trimestres , simultaneamente à expansão do consumo das famílias e do governo, esteja levando o País a reincidir na expressiva absorção de poupança externa, origem de crises de balanço de pagamentos no passado.

O investimento está sendo puxado pela forte importação, pela fabricação nacional de máquinas e equipamentos e pela expansão da construção civil. Um sinal preocupante é que a poupança doméstica ficou em apenas 16,8% do PIB no primeiro trimestre (abaixo da taxa de investimentos de 18,3%), recuando do nível de 18,3% do mesmo período de 2004.

Links Patrocinados