Título: Lap Chan tentou sacar dinheiro da VarigLog
Autor: Barbosa, Mariana; Grinbaum, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2008, Economia, p. B14

Investidor tem passado mais tempo fora do País desde que a Justiça ameaçou apreender seu passaporte

O investidor Lap Chan, do fundo americano Matlin Patterson, sócio da VarigLog, tem casa em São Paulo, mas desde o início de abril tem preferido ficar em seu apartamento em Nova York. Uma decisão judicial determinando a apreensão de seu passaporte foi dada em 9 de abril, depois que o juiz auxiliar da 17ª Vara Cível de São Paulo flagrou uma tentativa de transferência de um saldo de mais de US$ 80 milhões da conta da VarigLog na Suíça para a conta da Volo Logistics, subsidiária do fundo Matlin, no JP Morgan de Nova York. Lap Chan tentou sacar o dinheiro com uma ordem de transferência enviada por fax do escritório de advocacia de Roberto Teixeira.

A tentativa de sacar o dinheiro foi considerada, pelo juiz da 17ª Vara, José Paulo Magano, que acompanha a briga entre os sócios da VarigLog, uma ¿afronta a uma ordem judicial¿. Uma semana antes, em 1º de abril, Magano havia afastado os sócios brasileiros (Marco Audi, Luiz Gallo e Marcos Haftel) da gestão e da sociedade, sob acusação de má gestão e desvio de recursos. No entanto, em sua decisão, Magano negou o pleito de Lap de transferir os recursos para o fundo Matlin, argumentando que o dinheiro deveria ser investido na própria VarigLog. Lap tentou sacar todo o dinheiro no dia 3 de abril, mas parte estava bloqueada pela Lan Chile, que cobra uma dívida de US$ 17,1 milhões do fundo. No dia 8 de abril, como mostra o fax ao lado, Lap fez uma nova ordem de transferência, determinando o pagamento à Lan Chile e o restante do saldo para a VoloLogistics.

Na época da tentativa de saque, Lap e Teixeira negaram ter descumprido ordem judicial e disseram que tudo não passou de um mal entendido. Segundo Lap, o dinheiro iria para a conta da VoloLogistics e depois seria transferido para a VarigLog por meio de contratos de empréstimos. O juiz não aceitou a argumentação e aplicou uma multa diária de R$ 2 milhões, além de ter determinado a apreensão do passaporte de Lap. Ele ainda determinou que a Polícia Federal abrisse inquérito para investigar Lap, Audi e Teixeira. Há dez dias, a pedido dos advogados, o juiz oficiou a PF dizendo que Lap está livre para voltar ao Brasil.

O Matlin se aproximou da Varig em setembro de 2005, a convite do banco UBS. O UBS havia sido contratado pelo então presidente da Varig Omar Carneiro da Cunha e por David Zylberstajn, presidente do Conselho de Administração. A idéia de vender as subsidiárias de cargas (VarigLog) e manutenção (VEM) foi a forma encontrada para dar uma sobrevida à Varig, que em junho havia entrado em recuperação judicial e estava sem crédito na praça.

A portuguesa TAP comprou a VEM e a VarigLog. E logo revendeu a VarigLog ao Matlin por US$ 48,2 milhões. Da compra da VarigLog até a compra da Varig em leilão judicial, em julho de 2007, o Matlin foi fundamental para manter a empresa operando, por meio de empréstimos que tinham como garantia bilhetes vendidos por cartão de crédito. ¿No momento em que havia risco de falência da Varig, o Lap teve uma importância grande¿, lembra Cunha. ¿Ninguém queria botar dinheiro na empresa, só ele.¿

No início, todas as conversas eram com o próprio Lap Chan. Os sócios Marco Audi, Marcos Haftel e Eduardo Gallo entraram apenas na formalização do negócio, no início de 2006. E foi por intermédio de Audi que Lap foi apresentado ao advogado Roberto Teixeira.

A aventura da Varig faz parte do DNA do Matlin. Conhecido como um fundo ¿abutre¿, sua especialidade é comprar empresas quase quebradas, reestruturá-las e vendê-las por um valor mais alto.

O fundo foi criado por dois executivos do banco Credit Suisse, David Matlin, conhecido como grande jogador de pôquer, e Mark Patterson, que disputa provas de corrida pilotando Ferraris. Eles chamaram Lap, colega no banco, para trabalhar no fundo.

O fundo já se envolveu em várias polêmicas. A mais recente diz respeito à companhia americana ATA Airlines, que é controlada pelo Matlin e acaba de quebrar. Credores da empresa chegaram a acusar o Matlin de se associar a uma rival da ATA para acabar com a companhia.

Nascido na China e criado no Brasil, Lap estudou desde os quatro anos no colégio britânico Saint Paul¿s, em São Paulo, mas saiu do País aos 17 anos para fazer faculdade nos EUA. Na época, abriu mão da cidadania brasileira, optou pela americana, apesar de seus pais e irmãos terem passaporte brasileiro. Por causa dessa opção, Lap teve de buscar sócios brasileiros para comprar a VarigLog.

Como executivo de banco, Lap fez vários negócios no Brasil. Um dos que mais se orgulha foi a venda do jogador Romário para o PSV, da Holanda, em 1988. Na época, havia diferença entre taxas de câmbio. O esquema montado com a ajuda de Lap permitiu que o clube desembolsasse metade dos US$ 6 milhões prometidos ao Vasco.

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