Título: Houve pressa, não pressão, diz Zuanazzi
Autor: Scinocca, Ana Paula; Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2008, Economia, p. B4

Para ex-presidente da Anac, a pressão era da mídia e da sociedade

O ex-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Milton Zuanazzi negou ter havido pressão do Planalto para a venda da Varig. ¿Houve pressa, e não pressão¿, afirmou ele, em depoimento à Comissão de Serviços e Infra-Estrutura do Senado. A negativa foi feita à noite, depois de nove horas de depoimento da ex-diretora da agência Denise Abreu. Outros dois ex-integrantes da Anac, o ex-diretor Leur Lomanto, e o ex-procurador-geral João Ilídio de Lima Filho, também negaram qualquer tipo de pressão.

¿A pressão se dava na mídia (para resolver o problema da Varig), nesta Casa. A pressão por uma solução era forte. O tempo era fatal¿, prosseguiu. Diante da ¿pressão brutal¿, segundo ele da sociedade, para a recuperação da Varig, ¿sempre defendeu uma solução rápida¿.

Dizendo não ter arrependimento algum das decisões que tomou e de sua conduta enquanto esteve à frente da Anac, Zuanazzi afirmou que ¿seria loucura¿, naquele momento, vender a Varig sem antes solucionar a dívida da companhia. ¿Nem um débil mental, saindo de um hospital psiquiátrico, compraria uma empresa como a Varig (com a dívida dela). Nem a TAM, nem a Gol, nem a VarigLog, nem ninguém¿, afirmou.

¿Assumo tudo (todas as suas posições). Quem tem mandato não se achaca¿, reiterou, ao falar sobre sua gestão. Para Zuanazzi, a ¿Anac deve ser motivo de aplauso¿.

Segundo relato de Zuanazzi, a decisão para salvar a Varig não era unânime dentro da agência. ¿Eu sempre defendi salvar a Varig. Não era uma posição unânime dentro da agência. Mas eu sempre defendi. E defendo até hoje. As críticas que fiz ao governo fiz publicamente e as mantenho até hoje. É do ambiente democrático.¿

Depois de Zuanazzi, depuseram o também ex-diretor Leur Lomanto e o ex-procurador-geral da Anac João Ilídio de Lima Filho. A exemplo do ex-presidente da agência, também negaram pressão do Planalto para a venda da companhia. Lomanto afirmou haver empenho para resolver o problema da Varig. ¿Mas confundir isso com pressão do Palácio do Planalto não faz o menor sentido¿, anotou. ¿Eu não iria ser submetido a nenhuma pressão. Nem da Casa Civil, nem da Justiça, nem de quem quer que seja¿, assegurou. Em seguida, repetiu o que Zuanazzi dissera: ¿Houve pressa, não pressão¿.

João Ilídio também negou pressão e desmentiu a versão de Denise Abreu de que mudara seu parecer para aprovar a venda da Variglog para a Volo do Brasil sem investigar o porcentual de capital estrangeiro no negócio. ¿Nunca fui pressionado e não mudei parecer nenhum.¿

Ele negou ainda ter saído às pressas de um hospital, onde estaria internado, para fazer novo parecer. ¿Eu não estava internado. Estava tomando um oxigênio porque fumo excessivamente desde os oito anos¿, afirmou o ex-procurador da Anac. Ilídio confirmou que recebeu um telefonema, na ocasião, da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. ¿Mas ela só me ligou para ver como eu estava.¿