Título: Copom avisa que juro vai subir mais
Autor: Nakagawa Fernando; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2008, Economia, p. B1

Segundo ata, processo continuará até inflação voltar para centro da meta

O Banco Central (BC) avisou ontem, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que vai manter o processo de alta dos juros ¿enquanto for necessário¿ para colocar a inflação novamente na trajetória da metas. A mensagem, porém, foi transmitida em tom menos alarmista do que o esperado pelo mercado financeiro.

Apesar da aceleração dos preços no Brasil e da deterioração do cenário externo, o BC procurou transmitir segurança de que a pressão inflacionária deve ser revertida no médio prazo com o aperto monetário e o aumento do superávit primário das contas do setor público.

No documento, o BC reconhece a piora do quadro e deixa claro que o aperto monetário pode ser ainda mais forte, caso haja uma deterioração maior das expectativas para a inflação. Ao contrário da ata anterior, o BC não mencionou se ¿parte relevante do movimento da taxa básica de juros¿ já havia sido feita.

A maior preocupação agora do BC, sinalizada na ata, é com a inflação em 2009, cujas projeções se situam acima do centro da meta de 4,5%. Como o IPCA de maio (o maior em 12 anos para o mês), ficou muito mais alto do que o projetado e não foi levado em conta na última decisão do Copom, o mercado avaliou que a ata ficou defasada.

No documento, o Copom repete várias vezes que as decisões na política monetária têm defasagem no mecanismo de transmissão à economia. Para o ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Eduardo de Freitas, a repetição mostra que o foco do BC está na inflação de 2009. ¿Os índices de 2008 já estão dados. Por mais que o BC não queira jogar a toalha com relação à inflação do ano corrente, há essa defasagem que ele mesmo admite¿, disse. Para 2009, o mercado projeta IPCA de 4,60%.

Apesar do aumento dos investimentos e da desaceleração do crédito, o BC mostrou preocupação com o aquecimento da demanda. Mostrando que não está superado o debate entre monetaristas e desenvolvimentistas, a ata foi pontuada de alertas.

No trecho em que o BC trata da capacidade produtiva, a ata elogia o aumento dos investimentos industriais nos últimos trimestres e admite que isso tem evitado que a pressão inflacionária se propague. A simpatia, no entanto, pára por aí. ¿Embora o investimento venha contribuindo para suavizar a tendência de elevação das taxas de utilização da capacidade, não tem sido suficiente para conter tal processo.¿

Quando o assunto é petróleo, o Copom alerta que o preço da matéria-prima subiu ¿consideravelmente¿ desde a reunião de abril. Mesmo assim, a previsão oficial do BC para a gasolina é de preços estáveis em 2008. A boa notícia, no entanto, é seguida por um alerta. ¿Cabe assinalar, entretanto, que, independentemente do comportamento dos preços da gasolina, a elevação consistente dos preços internacionais do petróleo se transmite à economia doméstica¿ por meio de cadeias produtivas.

Em outro trecho, o BC destaca a ajuda dos produtos importados para conter aumentos de preços. Na ata, o Copom diz que a influência positiva existe, mas é preciso olhar para o outro lado.

¿Embora o setor externo exerça alguma disciplina sobre a inflação no setor de transacionáveis, o aquecimento da demanda doméstica pode desencadear pressões inflacionárias mais intensas no setor de não transacionáveis, por exemplo, nos preços dos serviços.¿

OS RECADOS DO COPOM

BC avisa na ata

Atual postura de alta dos juros será mantida enquanto for necessário para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas

Persistência do descompasso entre o ritmo de expansão da demanda e da oferta agregada "exacerba" o risco para a inflação

Deterioração do cenário se manifesta nas projeções de inflação mais altas

Sinal de aquecimento da economia é verificado na aceleração de preços no atacado e na trajetória dos núcleos de inflação

Ritmo de expansão da demanda doméstica continua colocando riscos importantes para a dinâmica inflacionária

Cenário dos EUA está mais pessimista e Copom fala agora em estagnação da economia norte-americana. Cenário não é mais de desaceleração. Persistem dúvidas sobre a eficácia das medidas adotadas

Petróleo é fonte sistemática de incerteza

Comportamento de preços de grãos é heterogêneo e segue em alta

BC admite na ata

Decisão levou em consideração aumento da meta de superávit primário de 3,8% para 4,3% do PIB em 2008 e 2009

Crescimento do crédito está mais moderado possivelmente devido à elevação dos custos de captação. Mesmo assim, crédito e expansão da massa salarial devem continuar impulsionando a atividade econômica

Gastos do governo (transferências governamentais) estão com menor intensidade do que se antecipava anteriormente

Copom retira peso das despesas do governo (impulsos fiscais) na lista de fatores que aquecem a atividade econômica e a demanda doméstica

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