Título: Poupança baixa é risco para o PIB
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2008, Economia, p. B14

Indicador cai desde o segundo trimestre de 2007 e não é suficiente para financiar os investimentos no País

Com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo a quase 6%, a inflação em alta e o déficit externo aumentando, a economia brasileira dá a impressão de que bateu nos limites da velocidade de expansão sem provocar desequilíbrios econômicos. ¿Temos todos os sinais de uma economia tentando crescer além da sua capacidade¿, diz Samuel Pessôa, diretor do Centro de Crescimento Econômico da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio.

Para muitos analistas, o Brasil tem um problema crônico de baixa poupança doméstica, que seria insuficiente para financiar os investimentos necessários para sustentar um ciclo longo de expansão a mais de 5% ao ano, um ritmo relativamente tranqüilo para diversas nações emergentes bem sucedidas.

Há evidências, de outro lado, de que o próprio crescimento leva a poupança a aumentar, o que faz com que outro grupo de economistas considere aquele tipo de preocupação um exagero da corrente mais ortodoxa.

O problema, porém, é que a divulgação do PIB do primeiro trimestre de 2008, na semana passada, revelou uma poupança nacional que não só é baixa, mas também não se está ampliando na esteira do forte crescimento desde 2006.

Na série encadeada de quatro trimestres, a poupança doméstica vem caindo desde o segundo trimestre de 2007, quando atingiu 18,09% do PIB. No primeiro trimestre de 2008, ficou em 17,57%. Analisando-se em perspectiva mais longa, os números também são desanimadores. Após ter atingido taxas muito baixas durante a crise de 2002 e 2003, a poupança doméstica recuperou-se para o pico de 18,6% do PIB no terceiro trimestre de 2004. De lá para cá, só caiu.

Na visão tradicional dos economistas, a poupança é a renda que não é gasta em consumo e, portanto, pode financiar investimentos. Quando a economia está aquecida, o consumo e os investimentos tendem a crescer simultaneamente. Como o aumento do consumo diminui a poupança doméstica, o País precisa de poupança externa para complementar o financiamento dos investimentos. Outro sintoma de consumo e investimento excessivos, em relação à capacidade de oferta da economia, é a inflação.

No caso brasileiro, há claro descompasso entre os investimentos, que vêm crescendo vigorosamente, e a poupança doméstica, que estagnou. Os investimentos cresceram de 16,4% do PIB no primeiro trimestre de 2004 (no conceito de quatro trimestres encadeados) para 18,6% nos três primeiros meses de 2008. A poupança, porém, ficou quase estagnada. O resultado é que o Brasil saiu de uma capacidade de financiamento de 0,56% do PIB no início de 2004 para uma necessidade de financiamento de 1% no primeiro trimestre de 2008.

O quadro real, porém, pode ser pior. De janeiro a abril, o Brasil registrou déficit em conta corrente de US$ 14,1 bilhões, equivalente a 3,09% do PIB. O raciocínio de vozes respeitadas nos meios econômicos, como a de Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, é que um eventual crescimento de dois a três pontos na taxa de investimentos, que parece o mínimo para garantir o crescimento sustentado e prolongado a taxas médias de 5%, levaria a uma ampliação do déficit em conta corrente.

Com isso, o indicador poderia atingir a faixa de 4% a 5% ao ano, que já levou a crises de balanço de pagamentos no passado.

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