Título: Agulhas contra os efeitos da químio
Autor: Iwasso, Simone
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2008, Vida&, p. A13

Acupuntura se mostra eficaz para tratar problemas colaterais de pacientes com câncer, como enjôo e desconforto

Meia hora de sessões de acupuntura três vezes por semana nos mesmos dias da aplicação da quimioterapia foram suficientes para acabar com as dores, náuseas, vômitos e desconforto provocados pelo tratamento - e que tanto incomodam pacientes com câncer. A conclusão apareceu em um estudo feito na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com pacientes tratados no Hospital A.C. Camargo.

O objetivo do trabalho foi unir as técnicas da medicina oriental com os métodos de pesquisa ocidental, buscando um tratamento para aliviar o incômodo dos pacientes que precisam se submeter a uma quimioterapia - cerca de 80% deles apresentam efeitos colaterais. Normalmente, alguns hospitais ministram remédios para tentar combater esses sintomas, mas não são sempre eficazes ou perdem o efeito depois de algumas aplicações.

¿A acupuntura clássica com agulhas para estimular os pontos chamados reflexos conseguiu restabelecer o equilíbrio do paciente com resultados terapêuticos muito positivos¿, afirma o médico Wu Tu Chung, responsável pela pesquisa. ¿Os pacientes relataram que não tiveram mais vômitos ou náuseas e que a intensidade das dores diminuiu muito, do primeiro ao sétimo dia após a sessão de quimioterapia¿, disse ele. O trabalho acompanhou 64 pacientes entre 22 e 66 anos que tiveram câncer.

Depois da pesquisa, o médico implementou o tratamento com acupuntura para pacientes oncológicos no hospital e, com isso, diminuiu a ingestão de remédios, principalmente entre as pessoas que não apresentavam melhora com os medicamentos. ¿Os pacientes do Centro de Dor são encaminhados para a acupuntura e também os que precisam fazer quimioterapia¿, explica o médico. ¿Provavelmente os estímulos ou a pressão nos pontos liberam substâncias neuroquímicas, que tornam não-sensível a zona gatilho do quimioreceptor no cérebro, prevenindo esses efeitos colaterais¿, afirma.

Segundo ele, o que indica a reação à quimioterapia e o sucesso da acupuntura não é o tipo de tumor do paciente, mas sim o tipo de remédio quimioterápico que está sendo usado - alguns provocam mais efeitos colaterais do que outros, além disso, as reações dos pacientes são diferenciadas.

Para a administradora de empresas Marília Silvia Gonçalvez, de 52 anos, a acupuntura foi indicada pelo próprio médico oncologista. ¿Ele acreditava que podia ser útil, já que nem os remédios para os enjôos faziam efeito¿, conta ela. ¿Na primeira sessão senti a diferença¿, diz. Marília, que teve câncer de mama, terminou a quimioterapia há seis meses e continua fazendo sessões de acupuntura, mas agora para controlar a ansiedade e ajudar a relaxar.

Outros centros brasileiros de pesquisa, como o da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um dos pioneiros na área, têm se voltado para estudar cientificamente os resultados da acupuntura, além de oferecer cursos de formação para os médicos. Na Unifesp, há mais de dez anos é oferecido tratamento para pacientes com dores ósseas e nas articulações.

Um dos trabalhos já publicados pela Unifesp foi feito por uma equipe coordenada por Luiz Eugenio Mello, da neurofisiologia, Sergio Tufik, da medicina do sono, e Ysao Yamamura, do Setor de Medicina Chinesa e Acupuntura, e mostrou o benefício das agulhas para pessoas com apnéia do sono. Outro grupo da mesma instituição comprovou que as sessões melhoram a úlcera gástrica.

SISTEMA PÚBLICOS

As comprovações da eficiência da acupuntura, apesar do ceticismo de parte da comunidade médica, levaram à implementação do método no Sistema Único de Saúde (SUS). Em dois anos, foram mais de 700 mil atendimentos de acupuntura e homeopatia pelo sistema público.

¿Os dados mostram o sucesso da política, que dá acessibilidade a essas práticas. Quando realizadas de forma privada, elas são potencialmente caras¿, observa Nelson Rosemann, membro da Comissão Intersetorial de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Segundo ele, a vantagem é que essas técnicas, quando aplicadas pela rede pública, acabam tendo um custo menor do que as práticas tradicionais e têm resultados comprovados.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 16/06/2008 03:37