Título: Audi diz que vai poupar governo no depoimento
Autor: Barbosa, Mariana; Grinbaum, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2008, Economia, p. B12

Empresário deve apresentar contrato que teria dado US$ 5 milhões para Teixeira cuidar do caso VarigLog

O governo não precisa se preocupar com o depoimento do empresário Marco Antonio Audi, sócio da VarigLog, na Câmara de Infra-estrutura do Senado, nesta quarta-feira. O empresário tem dito a amigos que vai elogiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Seu alvo não é o governo, mas o advogado Roberto Teixeira, que hoje está do lado de seu maior inimigo, Lap Chan, do fundo Matlin Patterson.

Audi tampouco nutre simpatia pela ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu, que depôs no Senado na semana passada, convocada para prestar esclarecimentos sobre a entrevista dada ao Estado. Denise acusa a ministra Dilma de pressionar a agência para favorecer interesses da VarigLog e da Varig, clientes do advogado Roberto Teixeira, amigo do presidente Lula. No Senado, Audi deve acusar Denise de dificultar a vida da Varig, com exigências regulatórias que, a seu ver, eram ¿desnecessárias¿.

O empresário deve repetir as acusações feitas ao Estado no início do mês, quando declarou que ¿a influência de Roberto Teixeira foi 100% decisiva¿ para aprovar a composição acionária da VarigLog e a autorização operacional da nova Varig. Audi não deve fazer, contudo, nenhuma revelação sobre a ligação de Teixeira com o governo - ou sobre o destino dos honorários advocatícios e taxas de sucesso que, segundo Audi, somam US$ 5 milhões. Mas a previsão é de que o contrato com o advogado seja apresentado.

Audi e os outros sócios brasileiros, Marcos Haftel e Luiz Gallo, são acusados de serem ¿laranjas¿ do Matlin na compra da VarigLog e da Varig. O fundo se associou aos três para se adequar à legislação, que limita em 20% a participação estrangeira em empresas aéreas. Os brasileiros foram excluídos da sociedade por decisão judicial no dia 1º de abril, acusados de desvio de recursos.

No exato momento em que Audi estiver no Senado, um julgamento do Tribunal de Justiça de São Paulo pode ser decisivo para o futuro da VarigLog. A 7ª Camara de Direito Privado do TJ julga amanhã o recurso dos sócios brasileiros contra uma decisão liminar do juiz auxiliar da 17ª Vara Cível de São Paulo, José Paulo Magano, que os afastou da gestão e do controle acionário da VarigLog.

Caso os desembargadores do TJ julguem pela manutenção da exclusão dos brasileiros, a companhia corre o risco de ter a concessão cassada e todo o negócio pode ser anulado. Isso pode acontecer caso os estrangeiros não apresentem novos sócios brasileiros até 5 de julho, quando vence o prazo dado pela Anac. Se a titularidade das ações voltar para os brasileiros, os inimigos terão de conviver, sob mediação de uma gestão judicial.

Isso é tudo o que os brasileiros querem. Quando afastou os brasileiros, o juiz obrigou o fundo a investir na empresa o saldo de mais de US$ 50 milhões de uma conta da VarigLog na Suíça. A retomada das operações valoriza a empresa e, conseqüentemente, a parte dos brasileiros - que viraram sócios sem desembolsar um real.