Título: Suspeito por tráfico de influência, filho da governadora do RN é preso
Autor: Souza, Juliano de
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2008, Nacional, p. A4

Polícia Federal desarticula esquema que teria desviado R$ 36 milhões de serviços terceirizados na área de saúde

A Polícia Federal prendeu ontem 12 pessoas, entre as quais Lauro Maia, assessor parlamentar e filho da governadora Wilma Faria, durante a Operação Hígia, destinada a desarticular esquema criminoso que teria desviado R$ 36 milhões de contratos de prestação de serviços terceirizados na área de saúde. Foram expedidos 13 mandados de prisão pelo juiz Mário Jambo, da 2.ª Vara Federal, mas até o início da noite um deles ainda não havia sido cumprido. Das 12 prisões, 11 ocorreram no Rio Grande do Norte e uma na Paraíba, Foram cumpridos também 42 mandados de busca e apreensão nos dois Estados. A Operação Hígia - uma referência à deusa grega da saúde - mobilizou 200 policiais federais desde as 5h30 de ontem.

De acordo com Caio Bezerra, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários da Polícia Federal no Estado, a quadrilha atuava em contratos de terceirização de serviços de mão de obra, manutenção e limpeza hospitalar, fraudando licitações. As investigações começaram há mais de dois anos.

O advogado de Lauro Maia, Erick Wilson Pereira, pediu habeas-corpus em favor de seu cliente, no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, mas ele foi negado. ¿O que há contra Lauro é apenas uma informação que é parte de um depoimento da ex-candidata a vereadora em Natal Jane Alves¿, protestou o advogado.

Ele considera desnecessária a prisão temporária de seu cliente. ¿Se o juiz que decretou a prisão reconhece que as investigações estavam no final, por que a temporária, que só é decretada no começo do processo?¿, argumentou. Ele disse que os policiais levaram o computador e alguns documentos referentes ao Imposto de Renda do assessor parlamentar.

O superintendente da Polícia Federal no Rio Grande do Norte, Hélio Sant¿Anna, afirmou disse que apesar da prisão de seu filho não existe nenhum indício que ligue a governadora Wilma Faria ao esquema. ¿Não recebi nenhum telefonema da governadora sobre qualquer providência referente ao caso¿, ressaltou.

Sant¿Anna, informou que órgãos como a Receita Federal, Controladoria-Geral da União e os Ministérios Público Federal e do Estado participaram das investigações. Antes da ação de ontem, a Polícia Federal apreendeu R$ 35 mil com uma das pessoas envolvidas, que não teve o nome revelado. Segundo Sant¿Anna, uma procuradora do Estado também cooperava com o grupo, emitindo ¿pareceres em favor do esquema¿.

PESSOAS INFLUENTES

¿Desde 2005, os contratos são renovados por meios ilícitos, com um custo mensal de R$ 800 mil¿, afirmou Bezerra, que comandou a operação. ¿Os contratos eram celebrados com participação de servidores públicos e pessoas influentes de nossa cidade. A predominância é de verbas estaduais, mas há, sim, recursos da União envolvidos nesse esquema.¿ De acordo com a PF, a investigação mostrou que quando se aproximavam as fases de renovação dos contratos havia um incremento no pagamento de propinas . ¿A investigação é rica em documentos. Tivemos acesso ao banco de dados do governo do Estado e sabíamos, portanto, quando os contratos seriam renovados¿, observou o delegado.

¿A Controladoria-Geral da União é que poderá mais à frente dizer o quanto desses serviços contratados e pagos foi realmente realizado, quantos trabalhadores foram contratados. A questão é que o esquema tinha fraudes¿, acrescentou o superintendente.

Os presos devem responder, entre outros crimes, por falsidade ideológica, peculato, corrupção, prevaricação, tráfico de influência e fraude a licitação.