Título: Não há candidatura do PSDB que vá destruir a aliança em São Paulo
Autor: Bramatti, Daniel; Amorim, Silvia
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2008, Nacional, p. A16

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), pretende se beneficiar de um paradoxo na campanha à reeleição: o PSDB será seu adversário e aliado ao mesmo tempo. A despeito da candidatura do tucano Geraldo Alckmin, Kassab vai manter na prefeitura todos os atuais secretários do PSDB. Mais do que isso, vai incorporar ao discurso a tese de que a aliança com os tucanos não acaba por causa das eleições e de que, portanto, eles são co-responsáveis por todos os atos da gestão municipal.

¿É irresponsável aquele que argumentar que a aliança tem de deixar de existir. Afinal de contas, nos apresentamos em praça pública, assumimos esse compromisso de dirigir a cidade por quatro anos. E o PSDB está junto nesse compromisso. Portanto essa aliança existirá até o último dia do meu governo¿, disse Kassab, em entrevista ao Estado.

Com essa estratégia, o prefeito pretende limitar o arsenal de Alckmin, que terá dificuldades para criticar uma administração loteada entre seus próprios correligionários. ¿Alckmin não fará críticas. Se tivesse alguma crítica a fazer já teria feito, porque ele faz parte do meu governo.¿

Para se contrapor à petista Marta Suplicy, o prefeito também já tem um plano delineado. Sempre que a ex-prefeita se apresentar como candidata que prioriza a área social, Kassab apresentará uma avalanche de números para tentar mostrar que seu governo investiu mais em saúde, educação, transporte público e habitação. ¿Desafio qualquer gestão a mostrar que fez mais do que a nossa.¿

Apesar de o governador José Serra não ter conseguido levar o PSDB a apoiar sua reeleição, o prefeito deu reiteradas mostras de que ambos continuam em total sintonia. Kassab repetiu que, em 2010, apoiará a candidatura à Presidência de Serra, de quem foi vice na campanha de 2004 e de quem herdou a prefeitura após as eleições de 2006.

Em defesa da governadora tucana Yeda Crusius, Kassab repreendeu o vice-governador Paulo Feijó, seu correligionário no DEM e autor de denúncias que provocaram uma crise política no Rio Grande do Sul. ¿Um vice precisa cooperar, precisa ser leal¿, destacou. Leia a seguir trechos da entrevista:

Pela primeira vez na história da cidade, aliados numa gestão estarão em palanques diferentes. Como lidar com essa situação?

Em primeiro lugar, a aliança continua existindo. Não há candidatura do PSDB que vá destruir a aliança em São Paulo. Essa aliança tem uma responsabilidade com a cidade. Fomos eleitos para governar e temos de cumprir essa responsabilidade até o último dia de governo.

A aliança ficará imune à eleição?

Claro que é imune. É irresponsável aquele que argumentar que essa aliança tem de deixar de existir. Afinal de contas,nos apresentamos em praça pública, assumimos esse compromisso de dirigir a cidade por quatro anos. Não é algo que possamos afirmar, de uma maneira simples, `o PSDB tem candidato e não tem mais aliança¿. Espera lá.

Como vai encarar eventuais críticas de Alckmin à sua gestão?

Alckmin não fará críticas. Se tivesse alguma crítica a fazer já teria feito, porque ele faz parte do meu governo.

Ele faz críticas. Há alguns dias disse que a cidade está escura.

Não foi uma crítica à minha gestão. Foi uma constatação. Se ele tivesse algum aconselhamento teria feito, porque ele e a sua equipe estão dentro do meu governo.

O sr. tem trocado farpas com a pré-candidata do PT, Marta Suplicy, na última semana. Focar em Marta é um jeito de fugir do enfrentamento constrangedor com Alckmin?

De maneira alguma. É que eu não posso deixar de responder à declaração da futura candidata Marta Suplicy de que São Paulo está uma calamidade por causa do trânsito. Eu não aceito o termo calamidade. Porque, se está calamidade, na época em que foi prefeita estava calamidade em dobro, porque tinha escola de lata, não houve recapeamento das principais avenidas.

Seus adversários centram fogo nas críticas ao transporte público. Esse setor é o telhado de vidro da sua gestão?

Não. Concordo com todos. É uma unanimidade na cidade que o trânsito é um grave problema. Mas não vi ninguém acusando o prefeito Kassab de não ter feito o planejamento correto. Só faltava me criticarem por investir R$ 1 bilhão no metrô ou por fazer a maior renovação de frota de ônibus da história da cidade.

Como vê as andanças de Marta testando o sistema de ônibus da gestão Kassab?

Lamento que ela tenha tido uma política pública de transportes não adequada. Não adianta construir corredores de ônibus que não têm área para ultrapassagens. De nada adianta pegar uma avenida, botar tachão e dizer que é corredor. Basta olhar o da Rebouças para ver que os corredores foram mal concebidos. Estamos terminando os projetos para reformular todos eles.

Marta tem como principal bandeira na cidade a área social. Como se compara a ela nessa área?

Desafio qualquer gestão a mostrar que fez mais do que a nossa. Enfrentar os desafios sociais da cidade é fazer com que milhares de crianças deixem de estudar em sala de lata, é investir no reforço de UBS, construir novas AMAs. É dar oportunidade para os que não têm condições de estudar em escolas públicas de qualidade. Isso é trabalhar pelo social.

O sr. gostaria de ter o governador José Serra no seu palanque?

Ficaria muito feliz, mas compreendo as peculiaridades da sua posição. Tenho respeito por ele e jamais o colocaria numa situação embaraçosa. Ele saberá qual a melhor conduta nessas eleições.

O sr. já disse que apoiaria Serra e Alckmin em 2010. Mantém o apoio?

Volto a dizer que meu candidato à Presidência é José Serra e, quando perguntado sobre a candidatura de Alckmin a governador, eu disse que era tão natural quanto a minha à prefeitura.

O sr. foi o pré-candidato que mais reuniu aliados, embora não seja o mais bem colocado nas pesquisas. Com o governo nas mãos fica mais fácil?

Não. Isso não faz diferença. Marta Suplicy estava no governo federal. Acho que isso se deve à confiança que os partidos têm na minha gestão e na qualidade de uma futura.

O sr. citou muitos acertos que acredita ter feito em sua gestão na prefeitura. E os erros?

Qualquer gestão comete erros e acertos. As administrações anteriores erraram ao não investir no metrô, por exemplo. Eu não diria erros. Eu tenho frustrações, como não ter concluído o processo de reformulação da rede de ensino, a reforma da rede hospitalar, não ter atendido as metas de valorização dos servidores...

Há arrependimentos?

Não.

O sr. não se arrependeu de ter discutido com aquele munícipe no posto de saúde?

Ah, sim. Eu fiquei indignado ao constatar uma manifestação ao lado de pessoas doentes e me excedi. Errei e pedi desculpas.

Qual a posição do senhor sobre três questões polêmicas: aborto, pena de morte e casamento gay?

Sou contra o aborto, salvo os casos previstos em lei. Pena de morte sou contra e casamento gay é uma decisão de cada um.

O sr. acha que seu partido deve expulsar o vice-governador do Rio Grande do Sul, Paulo Feijó, por causa da crise que ele causou?

Só conheço as denúncias pelos jornais. Acredito que, se ele tinha denúncias a fazer, deveria ter feito antes. O que critico é o fato de ele não ter cooperado desde o começo com a gestão da governadora Yeda Crusius. Todos podem divergir, mas um vice precisa cooperar, precisa ser leal.