Título: As armas do contra-ataque
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2008, Economia, p. B2

A inflação preocupa. O que tem de se ver agora é: o que deve ser feito para não deixar o contra-ataque apenas para o Banco Central e para os juros?

O ministro Guido Mantega vem declarando que, no segundo semestre, a inflação será naturalmente contida. Parece basear-se no pressuposto de que a alta dos alimentos no mercado mundial, de 20,5% apenas neste ano (de acordo com o índice de preços da Economist), já não tem mais tanto espaço para subir. É o ponto de vista que desemboca na política de esperar até que as coisas se ajustem por si sós.

Mas não são apenas os alimentos. Nesse mesmo esticão estão matérias-primas, petróleo e derivados. E, a partir daí, há a ciranda conhecida dos reajustes e correções - a tal espiral preços-salários -, que realimenta a inflação.

Não dá para ignorar o discurso de que a terapia dos juros não é eficaz para contra-atacar a inflação de custos, aquela que se origina de variações sazonais ou de um choque qualquer. Este seria o caso da alta do petróleo e dos alimentos, cujas cotações são determinadas nas bolsas internacionais de mercadorias.

A distinção entre inflação de demanda (que se origina do aumento da procura não acompanhado pelo da oferta) e inflação de custos está na base da atuação dos bancos centrais quando definem os juros. Em geral, a referência é o núcleo de inflação, que é expurgado das variações de preços dos alimentos e da energia.

A distinção tem seu efeito prático em tempos normais. Mas não serve quando a economia mundial vive um surto inflacionário generalizado, como agora. No início dos anos 80, quando era presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Paul Volcker não se apegou a distinções assim. Para combater a inflação causada pelo segundo choque do petróleo (iniciado em 1979), deixou de olhar para o núcleo expurgado e puxou vigorosamente os juros para perto de 20% ao ano. Provocou uma recessão braba, mas derrubou o inimigo.

Mas, afinal, o que dá para fazer agora no Brasil?

Alguns países estão reduzindo impostos ou até autorizando seus governos a pagarem parte da conta do consumidor por meio de subsídios ou de redução de impostos. Foi, em parte, o que fez o governo Lula com o preço da gasolina. Essa política dificulta o ajuste porque nem reduz o consumo nem provoca substituição do produto caro demais.

A Argentina adota o Imposto sobre Exportações (retención), que confisca parte do faturamento do exportador de forma a obrigá-lo a vender no mercado interno aos mesmos preços que obtém com as exportações. Mas essa providência desestimula a produção e também impede o ajuste. No Brasil, seria politicamente impraticável.

A proposta defendida por economistas das principais tendências é a redução das despesas públicas; ou seja, aumento do superávit primário. É providência que ajuda a derrubar o consumo interno que excede a capacidade de oferta da economia. O extra de 0,5% do PIB anunciado pelo governo é apenas uma canequinha d¿água nesse fogo.

Em tempos eleitorais, os políticos não gostam da redução das despesas públicas. Mas o que tira mais voto: a escalada da inflação ou a redução da gastança?