Título: Vale vai atrás de aquisição para não ceder espaço a rivais
Autor: Ciarelli, Mônica; Freitas, Tatiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2008, Negocios, p. B18

Eventual compra da Rio Tinto pela BHP tiraria importância da Vale nas negociações de preço

O interesse da Vale por aquisições no exterior reflete o dilema atual da gigante brasileira, que tem de se esforçar para manter a liderança na negociação de preço internacional do minério de ferro em 2009. Uma eventual compra da Rio Tinto, terceira maior mineradora do mundo, pela líder do setor, a anglo-australiana BHP Billiton, tornaria essa tarefa ainda mais árdua. A diferença de valor de mercado entre a companhia brasileira, que hoje ocupa o segundo lugar na lista, e a nova BHP quintuplicaria, pulando dos atuais cerca de US$ 30 bilhões para mais de US$ 150 bilhões.

Analistas são unânimes em afirmar que a saída para a Vale manter seu peso no cenário mundial está na volta às compras. A aquisição de um ativo de peso é considerada fundamental no atual jogo das consolidações. Ontem, o diretor-financeiro da mineradora, Fábio Barbosa, aproveitou um encontro com analistas em São Paulo para tentar minimizar o problema. Afirmou que a empresa vê aquisições como um complemento a seu crescimento orgânico e comentou que falar em aumentar o endividamento para financiar aquisições não é mais considerado um ¿pecado¿ pelo mercado financeiro.

¿Até 2004, quando se mencionava aquisições, a reação era direta: as ações só caíam. Hoje percebemos que os investidores recebem a compra de outra forma. Não é mais pecado falar em aquisições¿, disse. Apesar do tom tranqüilo de Barbosa, a preocupação em não perder espaço no concentrado ramo da mineração já foi manifestada até mesmo pelo presidente da Vale, Roger Agnelli.

No final do ano passado, no lançamento da logomarca da empresa, o executivo foi categórico ao afirmar que não deixaria a BHP Billiton se distanciar da mineradora brasileira no ranking. Para cumprir a promessa, Agnelli terá de correr para encontrar um ativo que tenha preço atraente e sinergias com a Vale. Hoje, a BHP Billiton já lidera com folga o setor, mas, com a aquisição da Rio Tinto passaria a ter um valor de mercado de mais de US$ 300 bilhões, quase o dobro do valor atual da Vale.

Apesar da velocidade de consolidação do setor, analistas descartam a possibilidade de a Vale ser absorvida por outra gigante internacional. Isso porque, na época da privatização, o governo manteve uma ¿golden share¿, ação que permite vetar uma transferência do controle da companhia para o exterior.

A preocupação de Agnelli com internacionalização e ganhos de escala está presente em todos os discursos feitos pelo executivo. E também em decisões como, por exemplo, a disputa pela anglo-suíça Xstrata, quinta colocada no ranking mundial. A companhia não saiu vitoriosa da mesa de negociações, mas deixou claro seu interesse em crescer também via aquisições de peso.

Menos de três meses após o fracasso da Xstrata, a Vale dá sinais de que prepara um reforço de caixa para sair novamente às compras, com o anúncio de uma oferta de até US$ 15 bilhões. A operação seria a primeira etapa de uma estratégia de reforço de caixa para evitar o problema enfrentado pela empresa na época em que fez a oferta pela Xstrata.

Apesar de ter negociado um empréstimo de cerca de US$ 50 bilhões com um pool de oito bancos, o valor ofertado ficou abaixo das exigências feitas pelos controladores da Xstrata e a operação não saiu do papel. A Vale colocou na mesa ações da empresa como moeda. Agora, estaria empenhada em ter todo o dinheiro para uma nova tentativa de aquisição.

ALVOS

Fontes próximas à companhia garantem que, desta vez, a Vale será mais agressiva. Revelam que no alvo estão empresas de peso como a produtora de cobre americana Freeport, a também americana Alcoa e a gigante britânica Anglo American. As três com valor de mercado entre US$ 45 bilhões e US$ 100 bilhões. Algumas fontes apostam inclusive em uma nova oferta pela Xstrata. Barbosa aproveitou para desmentir, ontem, estes rumores. ¿Não houve mudança de posição da Vale em relação ao assunto (Xstrata), e não temos mantido contato com a empresa.¿

Apesar de toda a engenharia financeira que vem sendo desenhada para reforçar o caixa, a Vale sabe que tem como calcanhar-de-aquiles sua classificação de grau de investimento. Se, por um lado, precisa ser agressiva para vencer a disputa por um ativo, por outro, tem de dosar seu endividamento para evitar perder o selo de empresa com baixo risco de crédito, o que a deixaria em desvantagem frente às concorrentes internacionais.

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