Título: Lula quer ação mundial antiinflação
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2008, Economia, p. B8

No encontro do G-8, presidente vai propor medidas coordenadas para conter a especulação com commodities

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai defender na reunião dos sete países mais desenvolvidos mais a Rússia (G-8), nos dias 7 e 8 de julho, uma ação coordenada dos governos para conter a especulação nos mercados futuros de commodities de alimentos, metais e petróleo.

A preocupação é tema recorrente nas avaliações internas da equipe econômica e ganhou destaque na reunião do presidente com ministros e economistas de fora do governo para discutir a inflação, semana passada.

A avaliação do governo é que essa especulação, originada nos mercados internacionais, sobretudo na Bolsa de Chicago - principal centro financeiro mundial de negociações de commodities -, vem alimentado um ciclo negativo de pressão de alta dos preços, com impactos em todos os países. Quanto mais os preços sobem nesses mercados futuros, maior volume de recursos, antes aplicados em outros ativos financeiros, como títulos públicos, migra para as commodities.

O governo americano já começou a tomar, nos últimos dias, medidas na direção de um maior controle nesse tipo de especulação, e o presidente Lula quer reforçar no cenário internacional a pressão por uma intervenção conjunta, intensa e rápida dos governos para conter a escalada dos preços mundiais.

Segundo fontes ouvidas pelo Estado, Lula deve ressaltar no encontro do G-8 que, sem ação coordenada em escala global, combinada entre os países, os riscos de novos aumentos devem perdurar e se espalhar.

¿Como o Brasil é um grande player (jogador) cada vez mais importante nesse mercado de commodities, o presidente Lula quer marcar posição¿, disse uma fonte. A Commodity Futures Trading Commission (CFTC), órgão que fiscaliza as operações no mercado futuro norte-americano, já anunciou que vai expandir as investigações sobre a potencial manipulação do mercado de petróleo nos Estados Unidos. O anúncio, feito no final do mês passado, após a alta do petróleo ter atingido novas máximas, acima de US$ 130 o barril, se junta às iniciativas do Congresso americano para adotar regras mais rígidas nos mercados de commodities.

A CFTC também fechou um acordo com a autoridade britânica dos serviços financeiros, com a New York Mercantile Exchange (NMX) e a Intercontinental Exchange (ICE), para partilhar informações sobre as posições diárias de grandes traders, particularmente nos contratos futuros de petróleo em terminais estrangeiros e nos Estados Unidos.

Essas ações reforçaram os rumores de que poderão ser adotadas medidas que limitem a participação de fundos especulativos nos mercados de commodities.

COMPRADOS E VENDIDOS

Embora, no Brasil, a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) reflita também esse movimento internacional de pressão de alta das commodities, há ainda um certo desconforto do governo com as apostas e a conseqüente influência nas expectativas de inflação entre os chamados ¿comprados¿ e ¿vendidos¿ nas operações com juros futuros.

Os ¿comprados¿, que acreditam que os juros vão demorar mais tempo para cair, e os ¿vendidos¿ em operações com prazos mais longos e que apostam que os juros cairão mais rápido se o Banco Central intensificar a correção na taxa Selic. Nas duas últimas reuniões do Copom, a Selic foi elevada em um ponto porcentual, passando de 11,25% para 12,25% ao ano.

As incertezas em relação aos próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom) acirram essas apostas e alimentam as expectativas futuras de inflação. Como a inflação corrente é também influenciada pelas expectativas futuras (os agentes econômicos tendem a antecipar os reajustes se acreditam na alta dos preços), a preocupação com o esse jogo de cartas no mercado de juros futuros se amplificou.

O mercado financeiro considerou que o ciclo de alta dos juros será mais longo. Isso porque o Copom, na sua última reunião, elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual e não em 0,75 ponto percentual, como o mercado chegou a cogitar.

¿Quem estava comprado em juros mais longos ganhou e quem estava vendido perdeu porque as taxas futuras de prazos mais longos subiram¿, disse o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas. ¿O mercado viu que o ciclo de alta que poderia ser curto será mais longo¿, disse.

Segundo Freitas, o ciclo mais longo de alta de juros favorece aos ¿comprados¿ de prazos mais longos e o ciclo mais curto aos ¿vendidos¿.

Ele lembrou que na primeira alta de juros desse novo processo de aperto monetário, também de 0,5 ponto porcentual, o Copom divulgou um comunicado informando que o ciclo seria ¿curto e tempestivo¿, levando a uma queda das taxas de juros futuras com prazos mais longos. ¿Nesse cenário, quem estava comprado perdeu e o vendido ganhou¿, ressaltou.

Mas, logo em seguida, disse Freitas, esse cenário mudou quando ficou mais claro que o ciclo de aperto monetário vai durar mais.

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