Título: Alta de preços dos alimentos já afeta resultados do varejo
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2008, Economia, p. B10

Vendas perderam ritmo em abril e expansão foi de apenas 0,2% ante março

Jacqueline Farid, RIO

A inflação dos alimentos afetou as vendas do comércio varejista em abril e impediu um crescimento maior do setor no mês, segundo mostram dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Houve expansão de apenas 0,2% no faturamento ante mês anterior e de 8,7% na comparação com abril do ano passado. Os dois resultados são inferiores aos de março.

O grupo de hiper e supermercados, que responde por 30% das vendas do comércio e é o mais sensível à alta dos alimentos, teve a perda de ritmo mais brusca: queda de 0,1% em abril ante o mês anterior e aumento de 0,6% em relação a igual período de 2007. Em março, as expansões no grupo haviam sido, respectivamente, de 2,4% e 8,5%.

¿A inflação dos alimentos afetou os resultados do varejo em abril, já que hiper e supermercados têm peso muito forte na pesquisa¿, disse o técnico da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE Reinaldo Pereira.

Para o consultor do Instituto de Desenvolvimento do Varejo, Emerson Kapaz, os consumidores estão reagindo com um ¿ajuste suave¿ aos reajustes nos alimentos, o que deve ¿evitar aumentos de preços exagerados¿ nesses produtos. Ele afirmou que, ¿se o aumento das vendas em abril mostrasse aceleração, isso seria uma combustão para a inflação¿. Segundo o consultor, os resultados mostram que a demanda no varejo não representará pressão adicional para a inflação.

Pereira e Kapaz dizem que o efeito calendário, provocado pela Páscoa, também contribuiu para a desaceleração no varejo. Em 2007, a Páscoa foi comemorada em abril, portanto, os resultados desse mês em 2008, ano em que a Páscoa foi em março, foram influenciados por uma base de comparação alta.

Para o economista-chefe da Gouvêa de Souza, César Fukushima, essa perda de ritmo deve prosseguir, já que os reajustes dos alimentos estão ocorrendo no mundo todo.

CRÉDITO

O freio no varejo só não foi maior porque o crédito farto e o câmbio continuam impulsionando compras de bens de consumo duráveis. O segmento de móveis e eletrodomésticos, com expansão de 27,8%, respondeu por 4 pontos porcentuais do crescimento de 8,7% nas vendas do varejo em abril.

Segundo Pereira, o resultado do segmento foi impulsionado pelos preços baixos dos produtos, favorecidos pelo câmbio e pela facilidade de importação. Além disso, as vendas continuam estimuladas pelo crédito e pelo alongamento dos prazos de financiamento.

O segmento de veículos e motos, partes e peças, que não é incluído no cálculo final da pesquisa, teve aumento nas vendas de 2,7% ante março e 29,2% ante abril de 2007. COLABOROU FRANCISCO CARLOS DE ASSIS