Título: Resgate enfraquece grupo rebelde
Autor: Miranda, Renata; Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2008, Internacional, p. A16
Libertação de Ingrid não significa fim das Farc, mas obriga guerrilha a mudar de estratégia; Uribe exorta grupo à paz
A operação militar que resgatou 15 reféns políticos mantidos pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) enfraquece ainda mais o grupo rebelde, mas ainda não representa o golpe final contra a guerrilha, afirmam analistas. "A libertação de Ingrid e de outros 14 reféns obriga as Farc a repensar sua estratégia militar e política", afirmou ao Estado o cientista político Carlos Medina, da Universidade Nacional da Colômbia. "Mas temos de lembrar que a guerrilha ainda tem poder e mantém outros reféns e, por isso, não pode ser considerada como acabada."
Num ano em que as Farc viram a base de seu secretariado se desmantelar com assassinatos e mortes, o resgate militar fragiliza ainda mais a organização do grupo. "Essa libertação é um golpe duro em um ano repleto de golpes contra as Farc", disse o cientista político Pedro Valenzuela, da Universidade Javeriana, em Bogotá. De acordo com o analista Gabriel Murillo, da Universidade dos Andes, o resgate reduziu as opções de negociação da guerrilha: "As Farc terão de pensar seriamente em libertar reféns unilateralmente, porque não têm mais força para fazer exigências." Ciente disso, o presidente Álvaro Uribe pediu que o grupo solte todos os reféns restantes e faça a paz, ressaltando que seu governo não está interessado em "derramar sangue".
Para Medina, "a partir de agora, as Farc devem tentar resolver suas brigas internas para acabar com o problema de guerrilheiros que ajudam o governo". Desde o começo do ano, as Farc vêm sofrendo um golpe atrás do outro. A onda de revezes começou em 1º de março, quando uma operação militar matou Raúl Reyes, o número 2 da guerrilha, em um acampamento no Equador. Dias depois, foi anunciado o assassinato de Iván Ríos, também membro do secretariado. Em maio, a guerrilha anunciou a morte de seu líder máximo, Manuel Marulanda.
Para Murillo, os ataques às Farc demonstram a melhora na estratégia do governo. Valenzuela alerta, porém, que a situação dos reféns ainda em poder da guerrilha pode se complicar. "Ingrid era a carta mais importante das Farc e perdê-la numa ação como essa pode fazer com que outros reféns sofram retaliações."
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