Título: O Banco Central está orientado a bater duro na inflação
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2008, Economia, p. B6

Nas palavras de Paulo Bernardo, a determinação de Lula: prioridade contra a alta de preços

O novo nível da taxa de juros do País será decidido na quarta-feira, com o mercado cada vez mais dividido quanto ao tamanho do corte: 0,5 ponto ou 0,75 ponto. No governo, porém, o "fogo amigo" - se houver - tenderá a ser silenciado por uma razão: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer prioridade no combate à inflação. "O Banco Central está orientado a bater duro", afirmou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Este mês, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, desafinaram quanto à estratégia de combate à alta dos preços. Em entrevista ao Estado, há duas semanas, Mantega disse que um resultado satisfatório seria a inflação ficar no intervalo da meta em 2009. Ou seja, até 2 pontos porcentuais acima do objetivo central, que é 4,5%. Dias depois, Meirelles foi taxativo: "O Banco Central está comprometido a fazer o necessário, e enquanto for necessário, para levar a inflação ao centro da meta já em 2009", disse, em depoimento no Senado na terça-feira.

O que parece um detalhe esconde visões diferentes sobre a velocidade e a intensidade com que se combaterá a inflação: se de forma mais gradual ou mais enérgica. No limite, é uma discussão sobre se e quanto a taxa de juros deve aumentar.

Há cerca de um mês, Lula reuniu-se com Banco Central e Fazenda e alguns economistas "de fora" para discutir o cenário econômico. Na opinião de Mantega, não se deveria elevar a taxa de juros e sim esperar os efeitos das medidas já adotadas pelo governo. Meirelles, que estava fora de Brasília, foi representado pelo diretor de Normas do Banco Central, Alexandre Tombini. Ele não se posicionou quanto a juros, mas aproveitou para dizer que "outros mecanismos" para conter a inflação estavam muito limitados.

Não são raros os economistas que apontam, por exemplo, para a ajuda que uma contenção nos gastos do governo poderia dar. Até o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), normalmente identificado com a ala "desenvolvimentista", tem defendido um aperto extra nas contas públicas. Há, porém, outras formas. Segundo auxiliares, o próprio presidente Lula cobra do Ministério da Fazenda uma interlocução mais próxima com empresários, para pedir colaboração no sentido de não aumentar preços.

No governo, a discrepância entre as declarações de Mantega e Meirelles não é vista como divergência, e sim como um caso de discursos diferentes para públicos diferentes. O dever de Meirelles, como presidente do Banco Central, é manter a inflação dentro da meta e não deixar dúvidas na sociedade quanto à sua determinação de manter os preços sob controle. Já Mantega precisa sinalizar aos empresários que o governo vai combater a inflação, mas sem sacrificar o crescimento. Com isso, busca preservar o ciclo virtuoso de investimentos e aumento da produção.

Ao governo, já está claro que o combate à inflação custará ao País uma taxa de crescimento menor no ano que vem. O Orçamento de 2009, cujo projeto será enviado ao Congresso no fim de agosto, deverá ser elaborado levando em conta uma expansão de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), informou Paulo Bernardo. "Estamos pensando em 4,5%." A inflação embutida nas projeções do Orçamento será também de 4,5%, ou seja, o centro da meta. "Não poderia ser diferente", observou o ministro.

Ele acredita, por outro lado, que o custo do ajuste econômico não será muito elevado porque o Banco Central se antecipou ao recrudescimento da inflação. "Quando começaram a subir os juros, todo mundo criticou." Meirelles, porém, convenceu o presidente Lula que uma ação preventiva contra a alta da inflação traz custos menores em termos de elevação da taxa de juros e desaceleração econômica.

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