Título: PF acirra atrito entre Dilma e Tarso
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2008, Nacional, p. A8

Ministra-chefe da Casa Civil ficou irritada com declarações do titular da Justiça sobre PAC e eleições de 2010

A primeira reação que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, teve ao saber que a Operação João de Barro, da Polícia Federal, pôs o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na berlinda foi de revolta. ¿É mais uma do Tarso¿, protestou Dilma, logo que o teor da investigação foi divulgado, no último dia 20, numa referência ao ministro da Justiça, Tarso Genro.

O comentário retrata a disputa política que marca a relação entre os dois. Sorridentes em público, Dilma e Tarso dão cotoveladas nos bastidores. A chefe da Casa Civil chegou a se queixar do colega ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Motivo: não gostou de declarações dadas pelo titular da Justiça sobre sua possível candidatura à Presidência, em 2010. Além disso, ficou furiosa com o anúncio de que a construção de casas populares do PAC era objeto de corrupção em sete Estados.

Tarso foi o primeiro que mencionou o PAC ao tratar do tema. A operação da Polícia Federal apontou um esquema de cobrança de propinas em obras que envolvem 119 prefeituras e teria desviado R$ 700 milhões. ¿Não há hipótese de qualquer tolerância em relação a desvios e fraudes no âmbito do PAC¿, afirmou Dilma. Lula deu razão à ministra. Há cinco dias, em cerimônia de assinatura de atos do programa, no Palácio do Planalto, ele escancarou sua insatisfação com o que chamou, reservadamente, de ¿pirotecnia¿ da Polícia Federal.

¿Logo de cara, eu disse para a Dilma: não tem obra do PAC nessas cidades. E pasmem: de quase R$ 1,8 bilhão, apenas R$ 15 milhões foram liberados em oito cidades que começaram as obras. Isso significa menos de 1% do dinheiro previsto¿, insistiu o presidente. Para Lula, ninguém pode dizer qual obra vem sendo investigada porque o processo corre em sigilo. ¿Mas já encontraram um culpado: é o PAC¿, reclamou.

O jogo de escaramuças entre Dilma e Tarso veio à tona há pouco mais de um mês, quando o ministro da Justiça deu uma entrevista ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, na qual disse que o candidato do PT à sucessão de Lula precisaria ter como atributo ¿profundo vínculo partidário¿. Foi além: afirmou que a ministra -ex-pedetista- não tinha militância no PT. ¿Não é defeito dela, é estilo de trabalho¿, justificou.

Dilma ficou aborrecida e Lula pediu que o ministro amenizasse o tom. ¿Aquela entrevista gerou tensão entre eles e, a partir daí, começaram os problemas. Agora, a operação da Polícia Federal foi apenas mais um capítulo desse mal-estar¿, contou um auxiliar de Lula ao Estado. ¿Não tenho qualquer divergência com Dilma¿, disse Tarso, que não quis falar sobre o assunto.

Batizada de ¿mãe do PAC¿ por Lula, Dilma é a candidata preferida do presidente para herdar o seu espólio. Um dos mais conhecidos formuladores do PT, Tarso ficou em segundo plano. Há um ingrediente adicional nesse embate: se Dilma não emplacar para o Planalto, pode mudar o plano de vôo e tentar o Palácio Piratini. O problema é que Tarso se prepara justamente para concorrer ao governo gaúcho em 2010.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 30/06/2008 02:41