Título: PT contraria Lula em decisões sobre alianças
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2008, Nacional, p. A16

Presidente se irrita com a candidatura de Molon no Rio e o veto à parceria com PSDB em BH

A cúpula do PT resolveu enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Às vésperas do prazo fatal para o fechamento das coligações municipais, a Executiva Nacional petista tomou duas decisões importantes que contrariam frontalmente Lula: manteve o veto à aliança com o PSDB em Belo Horizonte e referendou a candidatura do deputado Alessandro Molon (PT) à Prefeitura do Rio. Em ambos os casos, o presidente fez apelos no sentido oposto ao que foi aprovado por seu partido em dois dias de reunião.

Lula não escondeu a irritação com as decisões do PT. ¿Eu acho que não é possível lançar candidato só para marcar posição ou proibir aliança pensando numa vinculação com 2010¿, afirmou o presidente, segundo relato de um ministro.

No Palácio do Planalto, há quem interprete o movimento do PT como um recado. A avaliação de bastidor é que o partido - descontente com o lançamento antecipado, pelo próprio Lula, da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), às eleições de 2010 - quer mostrar sua força. Em outras palavras: avisar o Planalto que o candidato à sucessão do presidente tem de passar pelo crivo da burocracia petista.

Apesar de Lula defender Dilma com unhas e dentes, dirigentes do PT e até mesmo ministros, como Tarso Genro (Justiça), lembram que ela não tem vida partidária. O presidente não dá ouvidos a esses comentários e acha que o PT tem a obrigação de dar respaldo às suas decisões, para não prejudicar o governo.

Em Belo Horizonte, por exemplo, Lula defendeu a aliança do PT com o PSDB do governador de Minas, Aécio Neves. Promoveu várias reuniões, na tentativa de resolver o impasse e argumentou que a parceria era ¿conveniente¿ para os petistas. Não adiantou. ¿Acho que meus companheiros cometeram um erro, porque abriram mão do tempo de TV do PSDB na campanha¿, disse o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT).

No Rio, Lula ainda prega a retirada de Molon do páreo e o apoio do PT a Jandira Feghali (PC do B). Alega que seu partido precisa dar contrapartidas ao PC do B, já que o deputado Aldo Rebelo (SP) aceitou ser vice na chapa liderada por Marta Suplicy, em São Paulo. Tudo indica que não será ouvido.

¿Respeitamos a iniciativa do presidente, mas achamos que foi tardia¿, disse o secretário de Formação Política do PT, Joaquim Soriano. ¿As opiniões do presidente Lula são muito importantes para o PT, mas o partido tem autonomia em relação ao governo¿, emendou o secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Martins Cardozo (SP).

Apesar de proibir o casamento de papel passado com os tucanos, na capital mineira, a Executiva Nacional do PT aprovou um pacote de alianças com o PSDB, o DEM e o PPS, partidos que fazem ferrenha oposição ao Planalto. Além de autorizar a coligação com o PSDB em Aracaju, os petistas deram sinal verde para a parceria com o DEM em Volta Redonda (RJ) e em Porto Velho (RO). O PT também aprovou aliança com o PSDB e o DEM em Campos (RJ) e em Manaus (AM) vai compor chapa com o PPS.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada