Título: Inflação do IGP-M vai a 1,83% e reforça pressão sobre contratos
Autor: Saraiva, Alessandra; Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2008, Economia, p. B14

Coordenador do índice da FGV qualifica a situação de delicada por criar `uma certa inércia¿

A inflação no País atingiu 1,83% em junho, conforme revelou a segunda prévia de junho do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M). Em maio, em igual período, o resultado desse índice havia sido de 1,54%, mas a primeira prévia de junho havia sido ainda mais elevada: 1,97%.

A escalada inflacionária nos últimos meses levou o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, a classificar como ¿delicada¿ a situação atual. Ele admitiu que, por serem indexadores de contratos e tarifas - como aluguéis e contas de eletricidade - os IGPs são, neste momento, ¿um fator de persistência inflacionária¿. Ou seja, podem representar um elemento de sustentação da inflação no futuro.

¿Isso cria uma certa inércia. Se houver uma percepção (do mercado) de que o governo não está conseguindo conter esse processo, pode mesmo haver um descontrole. Estamos num momento delicado¿, disse ele.

O resultado de junho está sendo fortemente pressionado pela disparada nos preços da construção civil. Na segunda prévia de maio, o aumento de preços no setor foi de 0,82%; em junho, em igual prévia, chegou a 2,84%, a mais forte em 13 anos.

O período de coleta de dados para segunda prévia de junho do índice foi do dia 21 de maio a 10 de junho. Usado para reajustar preços de aluguel, o IGP-M já acumula aumento de 13,27% em 12 meses, o mais intenso em quase cinco anos.

Quadros acredita que este ano o maior impacto dos IGPs virá dos reajustes da energia elétrica (calculados com base no resultado do IGP-DI) em São Paulo, em julho, e no Rio de Janeiro, no fim do ano.

Mesmo com os preços em alta, Quadros não descartou a possibilidade de o IGP-M fechar abaixo de 2% no fechamento de junho. ¿Temos aumentos de preços que podem começar a perder força, principalmente no atacado¿, afirmou ele, citando o óleo diesel e o minério de ferro, que contam atualmente com taxas de elevação expressivas de preços, de 5,26% e de 10,57% respectivamente.

Embora tenha havido aceleração de preços no atacado (de 2,02% para 2,05%) e no varejo (de 0,47%), foi a construção civil que mais contribuiu para a taxa. ¿A construção civil respondeu por dois terços da aceleração na taxa do IGP-M, da segunda prévia de maio para a segunda prévia de junho¿, afirmou Quadros.

Ele observou que, em termos de peso, a construção civil é o de menor participação no resultado, com apenas 10%. Mas o avanço de preços no setor foi tão intenso que acabou por contribuir mais do que o atacado e o varejo na formação do resultado.

VAREJO

Os preços do feijão e das carnes estão subindo no varejo e devem ser acompanhados de perto daqui por diante, pois serão algumas das principais pressões que podem puxar para cima a inflação do varejo nas próximas apurações dos índices inflacionários, na análise do economista da FGV.

Da primeira prévia do IGP-M de maio para igual prévia de junho, a taxa de elevação das carnes bovinas foi de 1,71% para 5,37%. Também foi observado o fim da deflação nos preços do feijão preto (-1,22% para 5,91%) e do feijão carioquinha (-10,72% para 2,10%). Para Quadros, essas pressões aparentam ser persistentes e devem continuar a subir mais de preço por algum tempo.