Título: Déficit externo pode ir a US$ 21 bi
Autor: Gobetti, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2008, Economia, p. B1

Projeção anterior do BC era um saldo negativo de US$ 12 bi para 2008; até maio, buraco já é de US$ 14,7 bi

A deterioração das contas externas levou o Banco Central (BC) a elevar de US$ 12 bilhões para US$ 21 bilhões a projeção de déficit em conta corrente do Brasil em 2008. O número indica que cresce a distância entre o valor dos dólares gastos com importações, viagens internacionais e remessas de lucros e dividendos ao exterior, de um lado, e os ingressos de moeda estrangeira por meio das exportações, de outro.

Até maio, o déficit atingiu US$ 14,7 bilhões. Apesar dessa situação, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse que o resultado é ¿completamente financiável pelo investimento estrangeiro direto¿.

O investimento estrangeiro direto (IED) é o ingresso de capital externo para adquirir ou financiar a expansão de empresas e subsidiárias no Brasil. Nos cinco primeiros meses do ano, somou US$ 13,9 bilhões. A previsão do BC é de que atinja US$ 35 bilhões até dezembro.

Ou seja, até agora, o IED não chega a cobrir o déficit de transações correntes, mas, até o fim do ano, haveria folga de US$ 14 bilhões nas estimativas do BC (US$ 35 bilhões menos US$ 21 bilhões). Além disso, o investimento estrangeiro em ações e renda fixa tem crescido e ajudado a cobrir o buraco.

Pelos dados do BC, os dólares que entraram no País para comprar esses papéis já representam US$ 12,7 bilhões e podem subir para US$ 25 bilhões até o fim de 2008. Ou seja, a elevação dos juros no Brasil e o grau de investmento conquistado recentemente têm sido fator determinante de atração dos chamados ¿capitais voláteis¿, que ajudam a cobrir o déficit em transações correntes, mas pressionam a taxa de câmbio ainda mais para baixo, tornando as exportações menos competitivas e as importações, mais baratas. Muitos analistas têm apontado para esse ciclo de deterioração das contas externas.

Embora esse risco seja uma das maiores preocupações do governo, ao lado da inflação, Altamir afirmou que, em termos proporcionais, o déficit esperado para 2008 - 1,49% do Produto Interno Bruto (PIB) - é pequeno se comparado a outros países. Disse, ainda, que já é possível observar uma ¿acomodação¿ das remessas de lucros ao exterior e do déficit em conta corrente.

Em maio, as transações correntes tiveram saldo negativo de US$ 649 milhões, inferior à média de déficit de US$ 3,5 bilhões entre janeiro e abril. Em junho, pelos dados parciais, o BC espera déficit de US$ 1,2 bilhão e IED de US$ 3 bilhões.

As previsões do BC para a balança comercial mudaram pouco. Até maio, o superávit é de US$ 8,7 bilhões, mas o BC avalia que esse número possa totalizar US$ 25 bilhões em 2008, apenas US$ 2 bilhões abaixo do estimado inicialmente. Em 2007, o País teve superávit de US$ 40 bilhões.